terça-feira, 27 de outubro de 2009

Resposta ao Queirós

Das tuas críticas, a meu ver, apenas surge uma: o realizador não foi capaz de transmitir a verdadeira paixão que Fox tinha por Eugene. Tudo o que referiste como falhas são consequências disso.
E não sei se esta incapacidade que estou a atribuir ao realizador não é de facto a nossa ignorância em relação a cultura alemã (e à sua dinâmica social), aliada a uma má legendagem que não consegue transmitir diálogos com fidelidade.

Em relação ao teu Post Scriptum discordo parcialmente. Estás certo quando falas na Grande Ilusão: a Guerra é o que os separa e as classes o que os une. No entanto, o próprio sentimento de participação na Guerra é também um factor de união; o medo, a desorientação e a ânsia de voltar para casa são sentimentos partilhados entre os soldados de um lado e do outro.
A Guerra toma duas dimensões: a política, que separa exércitos, e a pessoal, em que a natureza não tem fronteiras ;)

Quando dizes que a classe social tem papéis contrários em ambos os filmes acho que estás errado. No filme de hoje as classes sociais têm dois efeitos diferentes: afasta as pessoas se elas pertencerem a classes diferentes mas aproxima-as se pertencerem à mesma classe. Tal como na Grande Ilusão! Basta ver a relação entre os Soldados (e.g. aquela parte na cela), e reparar também que o General não é próximo de nenhum soldado, mas apenas do General preso.

No meio disto o papel da homossexualidade, penso eu, funciona como o da Guerra no segundo sentido que referi. As pessoas que se juntam no bar não só são da mesma classe como são homossexuais (o que indica certas experiências semelhantes de marginalização). E o mesmo acontece o círculo de amigos de Eugene.

Adios!

3 comentários:

  1. "Quando dizes que a classe social tem papéis contrários em ambos os filmes acho que estás errado" - Não foi bem isto que eu disse.
    Posso não ter deixado bem explícito, true, mas o que queria dizer é que enquanto na "grande ilusão" (pelo menos foi como interpretei) as classes sociais são abordadas de um ponto de vista fraterno, dando principal relevância àquilo que aproxima as pessoas de classes diferentes mesmo nos mais sórdidos momentos, este filme incide mais naquilo que separa pessoas de classes diferentes. Em ambos os filmes a conclusão é a mesma : "Pessoas de classes sociais semelhantes juntam-se e pessoas com classes diferentes separam-se". Simplesmente um dos filmes aborda a junção e o outro a demarcação.

    Em relação ao resto do comentário, essa falha que tu apontas, "o realizador não foi capaz de transmitir a verdadeira paixão de Fox por Eugene" essa sim é uma consequência das más actuações , da má direcção de actores e da má caracterização das personagens, e não a causa, como dizes.

    No que diz respeito à homossexualidade, não acho que esta se possa analogar (será que esta palavra existe?) à guerra, por duas razões:

    Primeiro, porque acho que no filme do Renoir,(apesar de concordar que de certa forma a guerra possa despoletar uma certa união devido à marginalização) o papel da guerra é maioritáriamente o da separação. Acho que o Renoir vê a guerra como o disjuntor máximo e foi exactamente por isso que escolheu essa temática para fundo deste filme.

    Segundo, considerando que o papel da guerra é o que descrevo no primeiro ponto, não vejo de que medida a homossexualidade os separa, apenas como os junta.

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  2. *linha 3, 4º parágrafo* - devido à marginalização não. Devido à ansia de voltar a casa, medo, desorientação ...

    Q

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  3. "Das tuas críticas, a meu ver, apenas surge uma: o realizador não foi capaz de transmitir a verdadeira paixão que Fox tinha por Eugene. Tudo o que referiste como falhas são consequências disso.

    Foi este o meu maior problema com o filme! Obrigado, não estava a conseguir exprimir bem o que havia de errado com esta "Grande Desilusão" (créditos ao Queirós pelo óptimo jogo de palavras!), mas tu conseguiste descrever exactamente aquilo que mais me irritou! =P

    A partir do momento em que a relação que sustenta todo o filme não é credível, vem tudo "por aí abaixo". A badalada questão do dinheiro passa por isso - não consigo perceber o que o motiva a dar tanto dinheiro a um "estranho". Supostamente estava apaixonado, mas nada no filme nos passa esse sentimento.

    "E não sei se esta incapacidade que estou a atribuir ao realizador não é de facto a nossa ignorância em relação a cultura alemã (e à sua dinâmica social), aliada a uma má legendagem que não consegue transmitir diálogos com fidelidade."

    Acho que a culpa não é do Fassbinder "realizador", mas antes do Fassbinder "actor e protagonista do filme". Achei-o muito inexpressivo e, quando tentava sair desse registo, ficava demasiado teatral.

    Quanto à questão das legendas, poderá não ter ajudado (algo que não é garantido, pois já encontrei legendas "não oficiais" muito superiores às traduções de canais televisivos/DVDs - dado que estas últimas têm mais restrições a nível de espaço no ecrã), mas não me parece que tenha sido um factor determinante na ausência de credibilidade do romance.

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