terça-feira, 30 de março de 2010

Morangos Silvestres e A Luz é para Todos

À semelhança do que alguns já fizeram, vou pôr aqui os meus trabalhos. No entanto, em vez de os postar directamente, vou deixar a link para o meu outro blog, onde já os tenho publicados:

http://french-fries-with-pepper.blogspot.com/

Lista de Filmes

Estou a pensar colocar aqui uma lista de filmes da minha vida, ou, para ser menos pomposo, os filmes que mais gostei de ver.

Ando a trabalhar nessa lista que não deverá ter mais de 50 filmes, porque quero apenas pôr um filme de cada realizador.

Isto poderia gerar um intercâmbio interessante se vocês se dispuserem igualmente a colocarem as vossas próprias listas, com o nº de filmes que quiserem.

Como já perceberam pelos meus gostos,inclino-me sempre para duas áreas distintas: cinema americano da época dourada das décadas de 40 e 50 e cinema europeu e asiático de todas as épocas.

Vou dar notícias da minha lista muito em breve.

Jorge

Publicação dos trabalhos

Agradeço a publicação dos vossos trabalhos.

O José Madureira sugeriu-me que poderíamos criar um site, com um link para o site da escola (ou vice-versa) em que pudessem ser publicados os vossos trabalhos em formato PDF.

Isso resolveria o problema do produto final da nossá área de projecto e seria uma forma de tornar acessíveis as vossas obras primas a uma comunidade escolar (e não só)mais alargada.

Como calculam, embora ache a ideia excelente, os meus conhecimentos informáticos não me permitem pôr em prática esta ideia. Por isso gostava de ler as vossas sugestões não só no que se refere às referidas questões técnicas, como também em relação às vossas ideias para a referida página.

Aproveito para vos desejar umas óptimas férias


Jorge

2001 Odisseia no Espaço

Queria só recordar-vos que o vosso «trabalho de casa» na AP-FC consiste no viionamento do filme de Stanley Kubrick 2001 Odisseia no Espaço. Já sabem onde o podem encontrar.

Não se esqueçm que quando recomeçarmos as aulas, logo na 3ª feira, faremos o nosso debate sobre este filme.

Jorge

Solaris

FICHA TÉCNICA
Realizador: Andrei Tarkovski
Elenco: Anatoli Solonitsyn, Tamara Ogorodnikova, Donatas Banionis, Natalya Bondarchuk, Nikolai Grinko.
Produção: Andrei Tarkovski
Argumento e Guião: Adaptação do romance Solaris de Stanislaw Lem por Andrei Tarkovski
Ano: 1972
Duração: 165 minutos
País: Rússia
Cor: Colorido / Preto e branco
Género: Drama / Ficção científica

SINOPSE
O filme começa com uma sequência de imagens do protagonista – o psicólogo Kris Kelvin (Donatas Banionis) – observando o movimento dos animais, o fluir da água de um riacho e a sua casa feita de madeira, onde estão reunidos os seus familiares. Numa das primeiras cenas, Kelvin queima antigos papéis, entre eles a foto da sua ex-mulher.
Kris recebe uma visita de Burton, um piloto aposentado, que apresenta a fita de seu depoimento a uma comissão científica a respeito das visões que teve ao sobrevoar o planeta Solaris. Kris fica um pouco céptico relativamente a estas “alucinações”.
Solaris é um planeta distante formado por um oceano imenso. O ramo científico que estuda, há várias décadas, o segredo deste oceano, a solarística, está a desvanecer-se por falta de interesse ou resultados.
A história do filme acompanha a jornada de Kris Kelvin, enviado para a estação que orbita à volta deste planeta para estudar, clarificar alguns acontecimentos e convencer os únicos três cientistas que lá permanecem de que é necessário destruir o planeta, irradiando-o.
Kelvin fica surpreendido ao descobrir que um dos tripulantes, o fisiologista Guibarian, se tinha suicidado e outros dois, o astrobiólogo Sartorius e o especialista em cibernética Snout, estavam à beira da loucura. De alguma forma, o misterioso oceano de Solaris parece ter a capacidade de influenciar a mente humana, fazendo com que os que entram em contacto com ele recebam ‘visitantes’ inesperados. Como os dois cientistas vêm a explicar a Kelvin, estas visitas constituem materializações de conceitos; o oceano sonda o cérebro, retira o conceito e torna-o real. E Kelvin não é excepção: depois da primeira noite na estação orbital, reencontra a sua esposa, Hari, falecida há dez anos.
Ao longo do filme, Kelvin estabelece laços cada vez mais fortes com a realidade do seu pensamento – Hari – quase como se quisesse reparar um passado perdido. Apesar de não ser biologicamente humana, pois é constituída por neutrinos, Hari vai-se comportando como tal: aprende, ama e suicida-se. Porém, é imortal.
Nas últimas cenas, Kelvin delira e Snout, a pedido de Hari, desmaterializa-a. As imagens transmitidas, que se pressupõem ser do sono de Kelvin, durante o encefalograma (exame que regista a actividade eléctrica do cérebro) revelam memórias confusas do psicólogo; o corpo de Hari é quase misturado com o corpo da mãe de Kris.
Quando acorda, sano, o astrobiólogo Snout informa-o de que o aquoso Solaris, de alguma forma, manifesta alterações, começaram a formar-se pequenas ilhas [quase como se tivesse comunicado com o subconsciente de Kelvin]. Snout aconselha, também, o regresso dos três tripulantes à Terra.
A cena final mostra Kelvin a ocupar uma das ilhas no Solaris, num ambiente bucólico semelhante ao inicial, onde dentro da casa de madeira se encontra o pai. Kelvin, num tom quase de alívio e nostalgia, chora e ajoelha-se à frente do pai.

CONCEITOS FILOSÓFICOS ABORDADOS

Por não saber bem por onde começar, admito, em primeiro lugar, que o estudo e a tentativa de entendimento deste filme se revelaram um pouco infrutíferos. Para conseguir fazer este tipo de trabalho é preciso bastante pesquisa e eu deparei-me com tantos temas abordados, tantas análises, tantas interpretações de tantos pormenores que concluí que era impossível compreender o filme do início ao fim. Já para não falar no debate, bastante produtivo, da aula e que levou a conclusão nenhuma. Conformada com esta pequena frustração, tentei estruturar uma análise. O que consegui foi o seguinte.

Como fizemos no debate, começo por enumerar alguns tópicos filosóficos que podem ser discutidos e, em parte, são abordados no filme. Podemos pegar nos limites e fundamentos do conhecimento (quando é que o conhecimento é válido?), na identidade do ser humano, na definição de inteligência e de dever, na psicologia, etc. etc.
Houve um aspecto que consegui retirar depois do visionamento e que eu considero relevante no que diz respeito à inovação de Tarkovski; ele utiliza alguns lugares comuns de ficção científica, como os fatos, as naves, a própria estação orbital para poder explorar (não esquecendo o romance de Stanislaw Lem) um espaço muito mais complexo, o espaço interior.
Mas vejamos vários aspectos pela ordem do filme. É no diálogo inicial, ainda em Terra, entre Kris e Burton que surge abordado o primeiro tema acima referido. Surgem concepções contrárias: Kris defende a imoralidade da ciência, se esta é incapaz de conhecer o oceano Solaris, o melhor é destrui-lo; Burton, porém, diz “Quer destruir o que ainda não somos capazes de compreender? Não sou adepto do conhecimento a qualquer custo. O conhecimento só é verdadeiro quando ético”. Para Burton, a validade do conhecimento processa-se através da ética, porque a actividade humana é intrínseca à posição moral e, por isso, a ciência, como acto voluntário, não pode ignorar este lado intimamente humano. Burton rejeita a ideia de destruição do planeta Solaris; esta destruição não traria aos homens descanso, pelo contrário. A eliminação do planeta proibiria para sempre o seu conhecimento; qualquer outro que adviesse desta destruição não seria conhecimento verdadeiro.
Esta problemática foi, também, debatida nas nossas aulas em relação ao filme Gattaca: conhecimento a qualquer custo? Podemos, pois, pensar que o diálogo de Burton é, talvez, um pouco contraditório. Se o conhecimento só é realmente verdadeiro quando respeita os parâmetros éticos, então a personagem não poderia aceitar desenvolvimentos da ciência moderna. Grande parte da genética, uma das maiores áreas da ciência moderna, teve início em actos extremamente violentos, que rasgam completamente os limites humanos. Será, então, todo o conhecimento de que dispomos hoje, um conhecimento falso? Todo o acto humano respeitará as bases éticas e morais? Esta temática pode ainda ser relacionada com a discussão do filme A Laranja mecânica. Alex violava exaustivamente os seus valores, adquiridos na sociedade, no seio familiar e das experiências pessoais. Os seus actos voluntários, que o (e que nos!) especificam como ser humano, quebravam os seus valores morais. Na altura postei no blog a minha opinião acerca destes casos excepcionais. Talvez algo de errado se passe a nível intelectual com os indivíduos que praticam actos sem respeitar os parâmetros éticos. No entanto, estes casos não invalidam, por vezes, que se obtenha conhecimento… Lembro-me de um caso famoso que o professor nos falou, Josef Mengele (conhecido por “Todesengel”, o “Anjo da Morte”) que fazia experiências escabrosas com pessoas (os prisioneiros de Auschwitz).
Não me quero alongar mais neste tema, porque o Solaris é um mundo infinito de inquietações filosóficas e algumas são bastante mais interessantes de discutir. Achei particularmente interessante a personagem Hari, a materialização do conceito de Kelvin. Trata-se, pois, de uma discussão entre o que é real e “virtual”.
Hari, na Terra, era a mulher de Kelvin que, depois de uma discussão e de perceber que Kelvin já não a amava, se suicidou. Nesta estação orbital, Hari é imortal. Representa a materialização do inconsciente de Kris, uma vez que resiste e se impõe. Apontando para a psicologia, julgo que a Hari assume a forma viva dos traumas do passado de Kelvin, é a projecção da sua (in)consciência dilacerada. Como referi na sinopse, na primeira parte, o protagonista queima alguns papéis antigos, entre eles uma foto de uma mulher, Hari. Contudo, dentro de si ainda não resolveu estas questões do passado, que só são materializadas no oceano Solaris, permitindo o confronto e resolução destas lacerações. A parte final pode ser interpretada como esta resolução do conflito interior, uma vez que Kelvin recupera a sanidade devido à comunicação com o oceano, à ajuda deste na acção do subconsciente de Kelvin. No diálogo na biblioteca da Estação Orbital, Hari diz: “Para vocês [os tripulantes da Estação orbital], as visitas são uma coisa estranha e irritante. Mas as visitas são vocês próprios, são a vossa consciência.”
Como não sou especialista em psicanálise nem psicologia, é-me difícil analisar o filme sob este ponto. A dimensão de Hari que se revelou mais curiosa para mim, e talvez para a turma, porque o debatemos durante uma hora e muitos minutos, foi a sua possível dimensão humana. No decorrer do filme, Hari apercebe-se da sua artificialidade e da sua humanidade incompleta; Sartorious acusa-a de não ser humana, ser apenas uma «simples réplica». Apesar de ter consciência de si, Hari responde: “Estou a tornar-me humana! Não sinto menos do que vocês. Já posso viver sem ele [Kris]. Estou a amar, sou humana”.
Põe-se, pois, em causa, a identidade de Hari como identidade humana. Sendo constituída por neutrinos, será que se pode considerar Hari humana? Poderemos considerar humanos aqueles que não possuem a componente biológica humana e que apenas satisfazem parte da componente psicológica? Poderemos considerar pessoas os organismo que não desfrutam de memória a longo prazo? Aqueles que apenas sentem são seres humanos? Não poderá Hari ser apenas a projecção do problema das personagens do filme (ou dos próprios humanos) que é o de se saber se, embora humanos, o seremos de facto? Ou do que nos distingue enquanto animais e o que nos distingue uns dos outros? Porventura o tal “Anjo da Morte” de Auschwitz será menos humano que muitos, pela falta de sensibilidade e humanidade? E por outro lado, será que ele via nas pessoas a que submetia as atrocidades humanos menos humanos que os homens arianos?
Tentámos responder a algumas destas questões no nosso debate, e que são abordadas no filme. O amor que Hari sente por Kris, o seu “criador inconsciente”, vai tornando-a, mais humanizada; também ela sente os conflitos intensos do amor humano. Apesar de a identidade humana, na minha opinião, só ser possível se obedecer a certos parâmetros, em Tarkovski surge uma definição bastante curiosa: o tempo constitui o ser humano, pois é com ele que se sedimenta os laços de amor. Concordo até certo ponto.
Através dos sentimentos, das reacções, das aprendizagens, das memórias, e, portanto, da componente biológica, podemos aferir se um determinado indivíduo pode ser considerado um ser humano. O encéfalo humano é constituído por um córtex cerebral mais evoluído do que todas as outras espécies. Como explicou António Damásio, o lobo pré-frontal é o local que desencadeia as reacções emotivas e que possibilita a elaboração e cumprimento de planos futuros. É, também no nosso cérebro que retemos dados, recordamos acções e revivemos memórias. Como tal, se Hari apresentava algumas destas capacidades, como sentir emoções (em especial, o amor) ou reviver memórias, sejam elas recentes (quando Sartorius lhe explica que é artificial e que a Hari “verdadeira” já morreu, a personagem consegue recordar-se) ou distantes (há um momento em que Hari se recorda de uma situação específica com a mãe de Kelvin), significa que dispunha de cérebro e estruturas biológicas que a permitissem tais processos. Tendo estas componentes que fazem do homem ser humano, Hari pode ser considerada ser humano.
Porém, esta história desenrola-se num local misterioso, desconhecido pela ciência e quase metafísico. Por isso, todas estas concepções mais literais que a biologia e toda a ciência moderna utilizam para definir ser humano podem não ser idealmente aplicadas neste outro mundo. Aliás, Snout, ao contrário de Sartorius, torna-se totalmente céptico sobre as possibilidades do conhecimento científico, devido à sua experiência na Estação orbital, uma vez que este conhecimento é incapaz de explicar estas visitas constituídas por neutrinos. Snout chega a dizer: “Ciência? Tolice! Na nossa situação, o génio e o medíocre, dois impotentes. Dizemos que pretendemos conquistar o Cosmos. Na realidade, só queremos aproximar a Terra das fronteiras dele. Não nos importam outros mundos. Queremos é um espelho. Procuramos muito um contacto, mas nunca o encontraremos. Estamos na situação idiota de quem aspira a um objectivo que teme e que não necessita. O homem precisa do homem”. Snout adjectiva o homem como um ser superficialmente egoísta e egocêntrico, que não gosta do incomum e que precisa de encontrar explicação para tudo, quando, na realidade, precisa, primeiramente, de conseguir olhar para o seu espaço interior, confrontá-lo, aceitá-lo e melhorá-lo. Voltando a citar Hari: “Para vocês [os tripulantes da Estação orbital], as visitas são uma coisa estranha e irritante. Mas as visitas são vocês próprios, são a vossa consciência.”
Pelo contrário, Sartorius incorpora a lógica do sistema social vigente, não se sentindo sensibilizado pelos mistérios. “O homem foi criado pela Natureza para a conhecer. O homem está cada vez mais perto da verdade. Condenado a conhecê-la. Todo o resto é extravagância.”
Se Hari não possuía, de facto, componente biológica poderia ser considerada humana? Na minha opinião, não. Apesar de assemelhar fisicamente a tal, de ser detentora de sentimentos e algumas (poucas) memórias, Hari não é humana. Não só por causa da falta de carácter biológico; quando esta personagem se tenta suicidar volta a ressuscitar. Portanto, ela não pertence a si própria; nem pertence a Kris. Embora tenha consciência de si, pertence ao relacionamento do oceano Solaris com o subconsciente de Kris.
É curioso como Tarkovski, em certa medida, descontextualiza contrapondo Hari com as restantes personagens. Embora pudéssemos dissertar sobre identidade humana a partir deste filme, como aliás, o fizemos, julgo que o objectivo de Tarkovski era também ironizar a situação. Porque, convenhamos, é um pouco irónico colocar uma personagem construída, supostamente não-humana, no meio de humanos alienados de si, por vezes insensíveis, que quase se tornam menos humanos ou sensíveis perto da “E.T”.


OPINIÃO PESSOALTal como me sucedeu com o filme Palombella Rossa, o não entendimento espontâneo do filme criou em mim uma curiosidade. A cena final é propositadamente confusa e talvez um pouco desconexa à primeira vista para formar esta sede de compreensão. Porém, ao contrário do filme de Nanni Moretti, não apreciei tanto este filme. Os 165 minutos, em especial na primeira parte, custaram um pouco a passar. Para se manter fiel ao livro, como o professor até fez notar, as imagens predominam sobre o movimento.
Gostaria de fazer referência a uma das cenas na biblioteca, onde Snout divaga sobre a imortalidade que, tal como a ideia de imperfeição, persegue sempre o Homem. É o facto de serem sempre imperfeitos e de viverem com a preocupação de um dia poderem morrer, que os faz ter pressa. “As visitas só chegam à noite. Mas precisamos dormir. Aqui está o problema – o homem perdeu o sono.” E pede para Kris Kelvin ler uma passagem do romance Dom Quixote: “Só sei uma coisa, senhor, quando estou dormindo, desconheço o medo, as esperanças, os trabalhos e a beatitude. Agradeço a quem inventou o sono, esta única balança que iguala um pastor a um rei; um imbecil a um sábio. Mas também tem o seu lado negativo, se parece muito com a morte.”
Alguns elementos cenográficos, como o Queirós referiu, são bastante peculiares. As cores do filme são por vezes substituídas pelas cores neutras, de forma aleatória (?). Também a presença de ícones de modernidade e do seu imaginário científico constitui um detalhe na cenografia de Solaris. É uma aglutinação de ícones passados e presentes que, ao mesmo tempo, dialogam com os futuros. As tais condenações (imperfeição e efemeridade da vida) não só une todos os Homens contemporâneos como os une intemporalmente e de resto o tempo e o espaço é algo que, por muito que o Homem tente controlar (no caso dos espaços, nomeá-los, tentar conhecê-los – tenta mesmo conhecer o espaço infinito do universo – no caso do tempo, dividi-o e organiza-o), são estes – tempo e espaço – que regem as leis humanas.


Júlia Reis

quinta-feira, 25 de março de 2010

Viridiana

de Luis Bruñuel





Sinopse-Que-Supostamente-Vinha-Depois-Da-Ficha-Técnica-Mas-Que-Agora-Vem-Antes-Porque-A-Coisa-Técnica-Já-Não-É-Ficha


Viridiana é uma jovem freira prestes a professar. Antes de o fazer, a sua Madre Superior manda-a ir visitar o seu tio Don Jaime que lhe pagou os estudos e que é o seu único parente vivo. Viridiana diz preferir não ir, mas cede às ordens da Madre e viaja até à casa de campo do tio, onde o conhece, a Ramona – sua empregada, a Rita – filha de Ramona, e aos outros criados. Poucos dias depois de chegar, Don Jaime tenta seduzi-la sem sucesso, repetindo várias vezes quão parecida Viridiana é com a sua falecida mulher. Na véspera da partida da sobrinha, o proprietário desespera e pede-lhe que case com ele e que não saia mais da sua casa; Viridiana sente-se chocada com o pedido e repudia-o. Aí o tio, com a ajuda de Ramona, droga-a e leva-a para o quarto com pretensão de a violar, mas arrepende-se e acaba por não o fazer. Na manhã seguinte diz à freira que lhe tirou a virgindade e que, portanto, ela não pode voltar para o convento; mas, ao contrário do que esperava, Viridiana começa a fazer a mala ainda mais rapidamente e lança-lhe olhares de ódio. Jaime ainda lhe conta a verdade dizendo que não a violou, mas Viridiana não quer saber e parte para a aldeia para voltar para o convento. Don Jaime, ao ver isto, esboça um sorriso, senta-se à mesa escrevendo um novo testamento e suicida-se com a corda de saltar-à-corda de Rita.
A Madre Superior de Viridiana faz-lhe então uma visita em que fica a saber a decisão desta de não voltar para o convento: sente-se culpada da morte do tio e quer seguir o seu caminho sozinha.
Tendo herdado a casa com Jorge, o filho ilegítimo de Don Jaime há muito desaparecido, Viridiana acolhe todos os mendigos, pobres e pedintes da aldeia, dando-lhes uma cama (numa construção anexa), comida, conforto e começando a sua educação. Jorge, por seu lado, muda-se para a casa principal com a sua namorada mas tem, como o seu pai, uma paixão que não é correspondida pela sua prima. Com esta mudança, começam também as obras na propriedade ordenadas por Jorge.
O desenrolar final da história começa com a ida à cidade de Jorge, Viridiana, Ramona e de sua filha, que deixam a casa sozinha. Na ausência de supervisores, os pobres alojados deixam de trabalhar, combinam roubar um cabrito e, por fim, entram na casa principal. Deparando-se com um ambiente muito luxuoso, decidem jantar lá; mas na refeição acabam todos por se embebedar, dançando, vestindo-se com roupas de noiva (que pertenciam à mulher de Jaime), fazendo sexo e andando à pancadaria, tudo isto ao som da música religiosa Messiah de Handel (onde frequentemente se clama “Hallellujah, hallellujah!”). Antes destes acontecimentos, mas já com os mendigos bêbados, há a cena mais memorável do filme: os mendigos, a pedido de uma fotografia, sentam-se à volta da mesa imitando na perfeição a disposição dos apóstolos na Última Ceia de Leonardo Da Vinci.
Quando os donos da casa voltam entram em casa e deparam-se com este cenário. Jorge é atacado por um mendigo com uma faca e outro que lhe parte um garrafa na cabeça. Quando Viridiana o vai tentar ajudar, os mesmos dois mendigos subjugam-no e um tenta violá-la. Apenas não consegue porque Jorge suborna o outro para o ajudar a matar o mendigo que está por cima da jovem. A cena acaba com a chegada da polícia, que Ramona chamou.
No fim do filme, encontramos uma Viridiana muito diferente: tem o cabelo solto, uma camisa extrovertida e está a arranjar-se em frente a um espelho, ainda que com um ar desolado e triste e depois de limpar as lágrima. Bate à porta do quarto onde se encontra Ramona e Jorge. Este último convida-a a entrar, ao som de “Shake your Cares Away”, e a jogar uma partida de cartas com eles. Todo o monólogo de Jorge sobre o jogo dá a entender que fala de sexo, sendo última frase do filme é proferida por ele: “Não vai acreditar, mas a primeira vez que a vi disse a mim mesmo: a minha prima Viridiana vai acabar a “emparceirar” comigo”, dando a entender uma ménage à trois com os presentes.


Coisa-Técnica-Que-Primeiro-Era-Para-Ser-Uma-Ficha-Mas-Depois-Se-Transformou-Num-Texto-De-Desenvolvimento-À-Conta-Do-Nosso-Debate-Sobre-A-Importância-Da-Contextualização-Na-Avaliação-De-Uma-Obra



Viridiana é um filme espanhol de 1961, dirigido por Luis Bruñuel, produzido por Gustavo Alatriste e com a Silvia Pinal, Fernando Rey, Margarita Lozano e Francisco Rabal como actores principais. Tem a duração de 90 minutos e é a preto e branco. É considerado por muitos um exemplo do melhor cinema de Espanha, tendo ganho a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1961.
Luis Buñuel (1900-1983) é um conhecido realizador que, tendo nascido em Espanha, adquiriu nacionalidade mexicana em 1949 na sequência do seu exílio devido à tendência fascista que se verifica depois da Guerra Civil Espanhola. Teve uma rígida educação jesuíta no Colegio del Salvador, em Saragoça, onde, na sua adolescência, diz ter perdido a fé, tornando-se ateu. Esta sua posição tornar-se-ia importantíssima na sua vida e obra, que é marcada por uma forte crítica à religião católica, ridicularizando-a frequentemente. Em 1915 foi expulso do colégio.
Mais tarde estudou ciências naturais, engenharia e, por fim, filosofia na Universidade de Madrid. Instalado na famosa Residencia de Estudiantes, recebeu fortes influências cubistas, dadaístas e surrealistas e tornou-se amigo de Pepín Bello, Frederico García Lorca e Salvador Dalí. Foi com este último que produz, em França, o seu primeiro filme Un chien andalou. Este filme é também o seu bilhete de entrada para o grupo surrealista de André Breton.
Fugindo de Espanha no decurso da Guerra Civil Espanhola, Bruñuel foi para os Estados Unidos da América, onde chega a trabalhar como conselheiro e chefe de montagem do MoMA (Museum of Modern Art) em Nova Iorque. A história da sua demissão (ou despedimento?) não é clara, mas sabe-se ter sido na sequência do lançamento da autobiografia de Salvador Dalí (com quem tinha tido uma zanga), onde pintor afirma ter-se afastado de Buñuel por este ser comunista e ateu. Em 1946 vai para o México, onde adquirirá a sua nova nacionalidade.
Onde entra Viridiana no meio disto tudo? Em 1960, por razões de propaganda política, o ditador espanhol Franco manda o seu ministro da cultura convidar Bruñuel a voltar a Espanha e realizar um filme à sua escolha. O realizador aceita e produz Viridiana, partindo do país logo após terminar a sua produção. Após visualizado, as cópias do filme foram queimadas, mas uma delas conseguiu chegar a França, onde Viridiana foi premiado com a Palma de Ouro no Festival Cannes, causando um grande escândalo em Espanha.
O filme foi acusado de indecência e blasfémia pelo Vaticano, e no seu jornal oficial, l’Osservatore Romano, foi publicado um artigo dizendo que Viridiana era um insulto não só ao Catolicismo, mas ao próprio Cristianismo.
Para a produção deste, Bruñuel convidou o mexicano Gustavo Alatriste; foi o primeiro de três filmes que fizeram juntos. A actriz que faz de Viridiana, Silvia Pinal, era casada com este. Nascida em 1931 no México, fez carreira em filmes, na televisão e no palco, mas também na política: foi do Partido Revolucionário Institucional, pertencente à Internacional Socialista, no período inicial em que este estava no poder, o denominado Milagre Mexicano. Três anos depois de fazerem Viridiana, Gustavo e Silvia tiveram uma filha de nome Viridiana Alatriste Pinal.

Aquela-Parte-Mais-Gira-Em-Que-A-Gente-Pensa-Sobre-O-Que-Viu-E-Dá-A-Nossa-Opinião


Em termos de filosofia, o filme de Bruñuel é uma clara crítica à hipocrisia da moral da classe média e ao pensamento e valores da Igreja católica, temática recorrente nos seus filmes.
Comecemos por analisar a questão da hipocrisia da classe média, personificada por Don Jaime. Bruñuel critica o falso altruísmo e o falso seguimento de valores que esta personagem apresenta, por um lado mantendo uma imagem, pelo outro não correspondendo a esta. O primeiro indicador desta hipocrisia é nos dado quando Jaime salva uma abelha de se afogar, mesmo antes da noite em que droga e pretende violar a sua sobrinha. É-nos também dado pelo tio experimentar o vestido de noiva quando ninguém está a ver. Ou pela posição fatal em que coloca Viridiana quando tinha pretensões de a violar. O melhor exemplo desta crítica deverá será relação de Jaime e Ramona: num diálogo antes de drogarem Viridiana, a empregada diz está ao sérvio do proprietário porque ele as salvou (a ela e à filha) quando não tinham lugar para onde ir; na sequência disto, Jaime diz que se Ramona o ajudar a fazer com que a sua sobrinha fique, ele não se esquecerá delas (o que denota a hipocrisia no acolhimento da Rita e Ramona).

Passemos agora à análise do catolicismo a partir de elementos do filme. A religião e a sua suposta pureza são personificadas por Viridiana, cujo próprio nome nos remete para esta característica (significa “verde” em latim), uma jovem loira, bela e de pele fina, com umas pernas fantásticas mas sem o menor pingo de pecado ou desejo que fuja aos limites impostos por tão rígida religião. No entanto, esta jovem dorme com uma camisa áspera, no chão ou numa cama dura, limpa o próprio chão do quarto e tem uma cruz, pregos e uma coroa de espinhos na sua bagagem (objectos muito conotados com a igreja também pela música que os acompanha no filme). Estes elementos remetem para a crítica à penitência que Bruñuel faz. Talvez seja indicado, para percebermos melhor esta questão, fazermos uma citação do realizador, que refere “(…) uma aldeia que era demasiado pobre para poder ter uma igreja e um padre. Era um lugar sereno, porque ninguém sofria com a culpa. É da culpa que temos de escapar, não de Deus.”.
E religião é também criticada pela sua falsidade: Viridiana respeita todos os trabalhadores, mas é incapaz de tocar nas tetas de uma vaca por lhe fazer impressão (por sentir que é incorrecto?). A freira põe todos os mendigos e pobres a rezar, mas em paralelo os trabalhadores esforçam-se arduamente. Um momento muito simbólico de toda esta ideia é o sonambulismo de Viridiana: o ser mais puro de todos tem uma parte inconsciente que recolhe cinzas (símbolo da morte e da penitência) e as espalha na camada do anfitrião.
Penso que outra crítica que ainda é apontada é a da ingenuidade (consciente?) da religião católica. Enquanto o catolicismo continua a tentar ver os mendigos como “românticos e doces” (nas palavras do próprio realizador), a realidade mostra algo bastante diferente e até os criados vão embora não aguentando a injusta presença e recompensa destes.
Todas estas críticas se conjugam no filme apresentando uma jovem que se sente culpada por o seu tio, que a tentou violar, se ter suicidado; que apesar de sair do convento continua subserviente perante os seus superiores (Viridiana: “Desculpe se a ofendi.” Madre Superior- “Estás desculpada”); que dá esmola a um mendigo que se recusa a aceitar as mínimas regras de educação e que acolhe pobres que marginalizam outros pobres. Tão ridicularizada é ela, que os próprios mendigos comentam: “Esta senhora é a bondade em pessoa, mas um pouco chalada”.
O clímax de todas estas críticas (e do próprio filme!) é, obviamente, o final. A perversidade com que é dada a volta à situação deixam preto no branco toda a ingenuidade de Viridiana, e é acompanhada de frases chave proferidas pelos indesejados hóspedes: “Onde viste em mim más intenções?” diz a pobre que não trabalha quando a Señorita não está presente; quando um mendigo tenta violar Enedina o responsável Dr. Zequiel comenta “Deixem-nos pecar. É melhor, para se arrependerem depois”; o comentário do pedinte cego ao sair da casa destruída na presença de Jorge e Viridiana “Benditos os senhores que acolhem na sua casa um pobre cego indefeso. Que Deus lhes pague!” e, por fim, o que o mendigo “leproso” diz quando Viridiana está prestes a ser violada “Não lhe vai acontecer nada. Aqui somos todos gente de bem!”.
Sem esquecer, claro, a cena que já por si vale o filme inteiro: A Última Ceia dos Mendigos; tirada pela máquina “que me deram os meus pais”, segundo a mendiga. Queria Viridiana, e a religião católica, continuar a ver apóstolos em pedintes?
E tudo isto acontece à jovem que estava tão certa a sua fé que estava a um passo de fazer os seus votos.

Pessoalmente, e embora seja ateu, não tenho uma opinião formada sobre a religião: se por um lado à partida recusaria qualquer tipo de teísmo por serem formas de pensamento baseadas em dogmas, por outro reconheço que há religiões muito diferentes umas das outras (há religiões menos dogmáticas e mais abertas à ciência, por exemplo) e que a religião foi o exponente do colectivismo durante vários milénios.

Outra figura que será de interesse referir é Jorge. Penso que em grande parte representa a própria figura e ideologia de Bruñuel: não liga à religião (“não ligo a beatices. (…) para estar com quem quero não preciso da bênção de ninguém”),é capaz de acções altruístas sem ser conduzido por um ideal dogmático e sendo mais realista que a freira (compra o cão atado à carroça mas também comenta com Viridiana que esta “não pode salvar todos”) e é abertamente machista (a forma como o filme acaba, a maneira como trata a sua namorada e Ramona, a associação entre o beijo com Ramona e um gato que apanha ferozmente um rato), um traço também próprio de Bruñuel.

Por fim gostava ainda de fazer notar o elemento que, a meu ver, remete para a natureza mais perversa dos filmes de Bruñuel e da leitura que faz da vida: a corda de saltar à corda. Esta, inicialmente nas mãos da pequena e inocente (ainda que atrevida) Rita, é depois utilizada pelo tio para se enforcar. Logo aqui há um enorme peso simbólico na associação de dois conceitos antitéticos – inocência e suicídio. A perversidade aumenta quando compreendemos que Rita volta a saltar à corda com a mesma corda por baixo do sítio onde Jaime se suicidou e que esta é ainda utilizada como cinto do mendigo que tenta violar Viridiana mais tarde, sendo este o objecto que a jovem agarra para, sem sucesso, afastar o violador.
No final do filme, encontramos uma Viridiana diferente com o cabelo solto e camisas extrovertidas. Aparece-nos também muda, com uma lágrima no canto do olho e uma feição geral de desorientação. A meu ver, esta última cena representa a o reconhecimento do falhanço da religião católica por parte de Viridiana, que se deixa levar por Jorge por não conhecer as relações sexuais – ela não sabe “jogar”.
Gostei muito deste filme porque o acho rico em conteúdo intelectual e em simbolismo visual. Não sendo confuso e labiríntico, mas tendo muito sobre o que pensar, permite ao espectador aproveitar a sua beleza e genialidade imediata. Apreciei muito também o ambiente geral do filme que parece gozar e ser pessimista ao mesmo tempo, e que coloca dúvidas importantes sob novas perspectivas. Penso que não o posso dizer de melhor maneira do que François Truffaut: “Bruñuel is a cheerful pessimist, not given to despair, but he has a sceptical mind… (…) Bruñuel teaches how to doubt.”.




Pedro Feijó,
Nº20
12ºA
Esta não é a versão final do trabalho que entreguei. Mas esqueci-me de gravar a entregue xD

Palombella Rossa

Ficha Técnica do Filme
· Director/Realizador: Nanni Moretti
· Actores Principais: Nanni Moretti, Silvio Orlando, Mariella Valentini, Alfonso Santagata, Claudio Morganti, Asia Argento, Eugenio Masciari, Mario Patanè, Antonio Petrocelli, Remo Remotti, Fabio Traversa, Giovanni Buttafava, Gabriele Ceracchini, Luisanna Pandolfi, Imre Budavari, Mauro Maugeri e outros…
· Ano: realizado em 1988, exibido em 1989
· País de Origem: Itália
· Características específicas: Imagem a cores, 87 minutos de duração.
Sinopse
Em Palombella Rossa Nanni Moretti dirige e encarna a sua já conhecida personagem Michele Apichela, um dirigente do Partido Comunista Italiano e jogador de pólo aquático.
O filme começa com um acidente de carro do protagonista, ocasionado por uma brincadeira com crianças, que causa a sua perda de memória. O restante filme é composto por narrativas alternadas sendo a principal, e a que está a acontecer em tempo real, o jogo de pólo aquático entre a sua equipa, Monteverde, e a equipa adversária, composta de homens mais fortes e maiores, Acireale. Durante os períodos em que não está a jogar várias pessoas interpelam Michele incluindo uma jornalista desportiva que está a fazer um artigo político, dois homens que lhe oferecem bolos e apresentam uma posição muito assertiva, mas ao mesmo tempo vaga, de como resolver os problemas do PCI, um sindicalista de barbas e um homem católico que pretende o diálogo entre Michele e o seu grupo religioso. Alternando com esta realidade presente, aparecem as memórias que Michele vai recuperando ao longo do dia e que incluem a sua iniciação ainda em menino no desporto de pólo aquático, a sua junção, na adolescência, ao PCI e um episódio que lhe causou problemas causado pela sua paixão por doces.
No final do filme Michele falha o remate que faz a sua equipa perder o jogo. Falha-o por uma incerteza no momento. No dia seguinte, ao voltar para casa, tem uma acidente de carro com a filha numa colina. Ao sair do carro, vários seus conhecidos – camaradas, colegas de equipa, e até ele próprio e a sua mão nas suas memórias – começam a descer a colina na sua direcção, mas ao aparecer um falso sol que se ergue no cimo da colina todos eles se viram e tentam alcançar o sol com uma mão tirando um dos pés do chão.

Principais conceitos filosóficos abordados
Como ver o Comunismo na sociedade de hoje? Qual o papel dos Partidos Comunistas no panorama político da altura, particularmente no italiano? Qual a importância da história na construção e na existência do indivíduo, do partido e da ideologia?
Estas são as principais questões filosóficas abordadas no filme Palombella Rossa que, no fundo, convergem numa só: “Che significa ojje essere comunista?”.

Mas antes de passar a esta questão gostava ainda de referir outro tema que é tocado por Moretti: a importância das palavras no discurso político e na vida em sociedade.
Não escapa a ninguém que o protagonista, tal como a filha, têm uma sensibilidade tremenda no que toca a escolher as palavras “erradas” para falar; Michele chega mesmo a dar estalos à jornalista por usar estrangeirismos ou palavras mal integradas no discurso.
“Le parole sono importanti”, diz, e são! Penso que podemos considerar até que as palavras são a medida da realidade no que toca à sociedade, um vocabulário diferente é uma forma diferente de ver o mundo em que vivemos. Isto porque é nas palavras que se baseia a comunicação e a transmissão de ideias. Numa realidade que é contínua no que toca à sua diversidade e em que não há separações pré-definidas, a construção de conceitos limita o entendimento das realidades representadas por esses mesmos conceitos. E essas limitações no entendimento, embora devam ser combatidas em muitos casos, são muitíssimo necessárias pois sem elas seria impossível a transmissão de pensamentos, de ideias.
Quando chegamos a este ponto em que reconhecemos as palavras como as limitações dos conceitos com os quais a mente joga pelo método da razão, torna-se lógico que a utilização precisa do vocabulário é fundamental na vida política e na transformação social. Um exemplo: em Portugal uma das grandes vitórias do movimento LGBT na última década foi conseguir trocar a utilização vulgar do termo “opção sexual”para “orientação sexual”, o que obviamente altera a forma de pensar sobre a questão.
Não é de estranhar, portanto, a reacção agressiva de Michele quando o jogador adversário comenta que o pólo aquático “não é um jogo para meninas”: se as palavras mudam a sociedade, também as expressões populares o fazem, neste caso perpetuando um estereótipo machista da inferioridade das mulheres.
Ninguém o explica tão bem como o próprio protagonista: “Quem fala mal pensa mal, e vive mal”.

É óbvio que esta questão não aparece completamente deslocada na história. Ela simboliza, tal como muitos outros elementos no filme, a dificuldade e a recusa do PCI em evoluir e em adaptar-se à actual sociedade italiana. Esta dificuldade deriva, em grande parte, desse peso da história já referido.

Voltemos então à questão central: O que é ser comunista hoje? Nanni Moretti é brilhante no que toca à apresentação desta questão. Todo o filme gira a volta da memória e da história do indivíduo e do PCI como parte da sua própria essência, sendo que os dois são, no fundo, o mesmo – Michele personifica as incertezas, as dúvidas e a esquizofrenia histórica que assaltam o PCI. Um dos episódios em que isso se evidencia é a memória de Michele do encontro com um amigo seu, em que este lhe pergunta porque se tornou comunista; “Primeiro porque acho que é justo. Segundo, porque não nos sentimos isolados, estamos com pessoas que acreditam como nós em certas coisas, e as dizem como nós e connosco. Fazemos parte de um movimento que avança em todo o mundo. Vemos o que é esta realidade e tentamos transformá-la, porque amamos a humanidade, a verdadeira, e fazemos com que venha à luz”.
Esta, que é a verdadeira essência do pensamento comunista no seu início, contribui para a esquizofrenia histórica de Michele (do PCI) visto que é confrontado com os seus erros passados (o caso do fascista que obriga a dar a volta à escola enquanto lhe cospem em cima e o empurram) e com a opinião pública actual relativa ao PCI que é o oposto disso: “São um partido a refazer, desapareceram, flutuam a meia área. (…) Falta-vos identidade, têm pelo menos três almas. São um partido inútil e inócuo.”, “Qual a sensação de estar num partido agora em declínio?”, “É a ideologia corrente que as pessoas estão bem, que o Partido Comunista já não tem razão de existir, que o capitalismo é uma sociedade que mostrou estar em condições de resolver as suas contradições”.

Não é por acaso que Nanni realiza este filme em 1988. Em 1976 o Partido Comunista, nascido em 1921, teve quase 35% dos votos e em cima da mesa estava uma proposta de união com a Democracia Cristã que provavelmente levaria ambos os partidos ao poder. Esta união não se realizou porque o líder da DC foi assassinado pelas Brigadas Vermelhas, uma organização guerrilheira comunista, o que rompeu a aproximação que se vivia entre os dois partidos. (Mais tarde soube-se que por trás do golpe esteve a CIA, que ao serviço do Governo Norte-Americano tinha o objectivo de impedir que o PCI chegasse ao poder). Dez anos depois a posição em que se encontra o PCI é equivalente à dos Partidos Comunistas de muitos outros países: o enfraquecimento, e a próxima queda, da URSS começam a revelar o estado de vida e a falta de liberdades na união comunista fazendo com que parte da opinião pública, os media e vários intelectuais comecem a considerar o Comunismo morto, enquanto ideologia política.
E é nesta situação dos Partidos Comunistas que Moretti consegue captar toda a história e todo o dilema de Apicela e do PCI. Em 1991, três anos depois de o filme ter sido feito, o Partido Comunista Italiano dissolveu-se dando origem a três outros partidos.
Este panorama político e a relação com a queda da União Soviética é nos também dada por referências muito temporais como o filme que passa no televisor do pequeno quiosque, Dr. Jivago. É uma história de amor impossível, com a revolução russa em pano de fundo, entre uma mulher e um homem de classes sociais distintas. A despedida entre os dois devido à partida dela causada pela guerra é motivo para Michele levantar o pulso, em saudação comunista.

Será também de analisar a metáfora do jogo de pólo enquanto jogo político. Esta não nos é só dada pelo diálogo final com o teólogo (“Ser comunista (…) é um campo de jogo, é uma piscina”) mas também nos é induzida pela dinâmica geral do filme e por alguns momentos como aquele em que Michele grita ao guarda-redes da outra equipa “Porquê todo esse medo de nós? Somos uma força como as outras. Somos iguais, embora sejamos diferentes”. Equipa comunista contra a equipa da sociedade actual, que proíbe o seu avanço. A equipa dos mais fortes, dos maiores, contra a equipa que se inspira com o “I’m on fire” do Bruce Springsteen. E o protagonista que embora desnorteado quer sempre entrar em jogo. No penalty decisivo do jogo Michele pergunta a um adversário se não sente pena de si. A resposta é uma forte cabeçada.

À volta o público, os anjos, que estão a torcer pela equipa de fora mas que não estão contra Michele e os Monte Verde, que os olham, que gritam, que berram… e cada silêncio é um golo. Esses anjos que por vezes gritam “Michele estás tramado, o jogo está perdido”, por outras entoam com ele músicas de esperança.
“Há 30 anos que ando dentro de água. (…) Cuidado com a água. Já não tenho sabor do que como (…) O jogo correu como correu… Esperava mais da vida. Mais e melhor. Ainda que esta pizza, este balneário, (…) os jogos fora, os autocarros, os restaurantes, o público que nos insulta, que nos cospe, os pontapés do adversário, tudo isso é belíssimo.”


O que significa ser Comunista hoje?, mantém-se a pergunta. Ao longo do filme são várias as respostas personificadas que vêm ter com Michele: o sindicalista de barbas, o católico persistente, os “tímidos” homens dos bolos que querem denunciar os males do partido e se apresentam como um “mundo diferente” do de Apicela e, por fim, o teólogo para quem o comunismo é uma sensação de totalidade, e uma crença. Mas a verdadeira resposta para Michele é a sua própria concepção, as suas memórias e também a mudança para a aproximação da visão que tinha do comunismo quando entrou para o PCI.
Ser comunista hoje significa ter noção da evolução do mundo que nos rodeia, significa apercebermo-nos da necessidade da evolução do vocabulário e das teorias comunistas. Significa por em causa o próprio marxismo e nunca deixar de ter uma postura crítica que questiona mesmo as bases que se apresentam mais fortes. Por outro lado, significa aceitar que nem tudo o que se auto-intitula comunista corresponde ao nosso próprio ideal e que é preciso repudiar as formas de sociedade emergentes que castram a liberdade dos indivíduos pela intolerância ou que escondem modelos económicos mais exploradores que o capitalista.
Não se deve esquecer, no entanto, esse sentimento de que Michele nos fala. Ser comunista é querer o bem comum, é querer fazer sobressair a verdadeira humanidade das pessoas. É acreditar no poder da democracia e no colectivismo como a forma mais justa e benéfica de viver em sociedade. É lutar contra as acções e os modelos individualistas e hegemónicos.
Sim, lutar. Porque as revoluções não são como as maçãs que caem das árvores, é preciso arrancá-las, já dizia Che Guevara.
Opinião pessoal sobre o filme
De todos os filmes que vimos nas aulas de Filosofia e Cinema, foi o de que mais gostei. Trata-se, no entanto, de um filme que nos toca muito mais a um nível emocional do que a um nível racional. Isto porque é tão recheado de simbolismos que os elementos começam a fazer sentido na nossa compreensão muito antes de percebermos, racionalmente, o que representam.
A imagem está muito bem construída e o cenário principal é muito dinâmico. As cenas em câmara lenta são de uma enorme beleza e a música está muito bem escolhida.
O único grande problema que tenho a apontar ao filme é o de ser de uma grande restrição temporal, pelo que para o compreender a um nível mais aprofundado é necessário um estudo prévio sobre algumas características de um filme. Sem esse estudo nunca teria percebido o significado de elementos importantes como o filme Dr. Jivago ou a música de Bruce Springsteen.
No final, é um filme que me deixa muito triste, embora seja uma tristeza de um reconhecimento de uma beleza e de um significado absoluto. A cena final em que todos tentam alcançar o sol, convictos mas em equilíbrio precário, e em que a criança se ri da situação faz-me lembrar a história do “Rei vai nu”, em que apenas a ingenuidade vê a verdade. Um pouco doloroso ver a verdade a rir-se do que todos querem alcançar e de aquilo em que todos acreditam quando acreditamos nisso também…



Pedro Feijó
Nº20 12ºA

quarta-feira, 17 de março de 2010

Trabalho AP

Para quem nao esteve na aula de ontem, o trabalho é para entregar até sexta feira, no útimo intervalo da manha (11.30) e em papel!!!

Para todos os que estejam interessados, digam-me o que acharam do sonhos e, quando o virem, do proximo também.

Beijinhos e abracinhos

segunda-feira, 15 de março de 2010

Chimamanda Adichie: O perigo da história única

Outro off-topic que não posso deixar de partilhar com vocês (ou talvez possa, se ralharem comigo xD).
O mesmo se aplica aos filmes, claro.


domingo, 14 de março de 2010

Novo blogue

Quase por acaso, descobri um novo blogue com filmes. É brasileiro e apresenta algumas diferenças relativamente ao que já conhecemos.

Trabalha sobretudo com cinematografias o mais exaustivas possíveis de alguns realizadores e mete alguns filmes desalinhados recentes, como o Sacanas sem Lei do Tarantino.

Podem por lá encontrar grandes partes das filmografias de Bergman, Tarkovsky, Buñuel, Fellini, Antonioni,Truffaut, Pasolini ou Godard. Lá está também a Fúria de Fritz Lang que tento gostámos de ver na Cinemateca.

O único problema é que utiliza o rapidshare em vez do megaupload, o que torna os downloads mais lentos e fraccionados em diversas partes de ficheiros rar, que vocês farão a fineza de unir e descompactar para os poderem ver no Real Player

Só falta o endereço: http://setimoprojetor.blogspot.com

Jorge

Espero que tenham gostado do filme

Vai aqui uma excelente discussão sobre a relação entre a tecnologia e a felicidade.

Propositadamente, não quis intervir, mas acho que estão aqui lançadas as premissas para a nossa discussão de 3ª feira.

Sei que o pessoal anda um bocado aflito com os testes do final do período. Se tiverem pouco tempo, vejam apenas a última parte (o último sonho). mas o ideal era verem o filme todo, sobretudo porque ele é muito bonito.

Jorge

«Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de o dizeres.»

Voltaire

sábado, 13 de março de 2010

Pelo cinema português

“O cinema português vive hoje uma situação de catástrofe iminente e necessita de uma intervenção de emergência por parte dos poderes públicos e em particular da senhora Ministra da Cultura. O cinema português – o seu Instituto – ao contrário do que é repetido vezes sem conta, é financiado por uma taxa (3,2%) sobre a publicidade na televisão, e não pelo Orçamento de Estado. O financiamento do cinema português desceu na última década mais de 30% e a produção de filmes, documentários e curtas-metragens, não tem parado de diminuir. O Fundo de Investimento no cinema, que era suposto trazer à produção 80 milhões de euros em cinco anos, está paralisado e manietado pelos canais de televisão e a Zon Lusomundo, e não só não investiu quase nada, como muito do pouco que investiu foi-o em coisas sem sentido.”

Os realizadores Manoel de Oliveira, Fernando Lopes, Paulo Rocha, Alberto Seixas Santos, Jorge Silva Melo, João Botelho, Pedro Costa, João Canijo, Teresa Villaverde, Margarida Cardoso, Bruno de Almeida, Catarina Alves Costa e João Salaviza e os produtores Maria João Mayer (Filmes do Tejo), Abel Ribeiro Chaves (OPTEC), Alexandre Oliveira (Ar de Filmes), Joana Ferreira (C.R.I.M.), João Figueiras (Black Maria), João Matos (Terratreme), João Trabulo (Periferia Filmes) e Pedro Borges (Midas Filmes) .

Leia a petição completa e assine aqui

retirado do Arrastão

sexta-feira, 12 de março de 2010

Grande Alice

Bom eu já vi o filme daa Alice no País das maravilhas na segunda no entanto só agora tive tempo de vir dizer algo. Para mim o filme está bom, está bem feito. Johhny Depp faz um papel brilhante mais uma vez. Agora é assim, o filme está giro, afinal é para crianças, mas no contexto geral, acho que já vi melhores de Tim Burton.
Agora para as pessoas que possam vir a pensar que o filme é uma banalização do livro, e que não tem nada a ver com o livro, tem razão, mas é assim mesmo. Ou seja, este filme foi baseado em dois livros de Lewis Caroll, "Alice in the Wonderworld" e Through the looking glass", o segundo nuca o li, mas o que posso retirar daqui. é que o filme não segue o primeiro livro como dizia o professor porque a história do filme conta a Alice a voltar ao país das maravilhas(com cerca de 20 anos) depois de já lá ter estado quando pequena. Daí não ter muito de comum com o livro, pois este fala da Alice pequena.
De resto o filme é bacano, e devem ir ver ao cinema porque com o 3D vale a pena.
Gonçalo

quinta-feira, 11 de março de 2010

Sonhos de Akira Kurosawa

Como disse na aula, nesta 5ª feira não há exibição do filme na sala 1, uma vez que a mesma estava requisitada por outra professora há várias semanas.

O filme em causa é o Sonhos de Akira Kurosawa, uma das suas obras finais. Kurosawa é um dos maiores cineastas japoneses de sempre que faz parte de uma geração de ouro que emergiu após a 2ª guerra mundial e a que pertencem cineastas como Mizoguchi, Ozu e Naruse entre outros.

O filme foi realizado já na fase final da sua vida (1990)e é entendido como uma espécie de seu testamento estético e ideológico. É constituído por uma série de sete ou oito episódios independentes (a que ele chama sonhos). Para além do virtuosismo que sempre lhe foi reconhecido, chama a tenção um conjunto de ideias que nem sempre nele estavam presentes: o pacifismo, a ecologia e o apelo a uma vida simples.

Proponho que vejam o filme todo, mas a nossa discussão vai centrar-se no último desse sonhos. O tema em discussão prende-se com a relação entre a ciência e a tecnologia e a felicidade.

Deixo uma pergunta para reflectirem: há alguma relação entre a ciência e a felicidade?


Jorge

segunda-feira, 8 de março de 2010

Apelo

Eu sei que a época é má, os testes apertam, mas hoje fiquei um bocado assustado. Das poucas pessoas com quem falei, ainda ninguém tinha visto o Solaris.

O filme é longo e denso, mas a recompensa de se ver uma obra prima penso ser um bom tónico. Além disso, recordem-se que se não o virem, pura e simplesmente a aula de amanhã não pode funcionar e ficaremos a olhar uns para os outros.

Apelo a um esforço da vossa parte. Entrámos neste modelo de aulas, que me parece muito bom, no pressuposto da auto-responsabilização, isto é, que toda a gente iria às aulas de debate com o filme visto. Se o esquema não resultar, lá teremos que voltar ao modelo antigo, seja ele qual for.

Coragem e determinação. Este filme pode marcar-vos. Como disse o João Queiroz num comentário, há pormenores de realição que são absolutamente únicos.

Jorge

domingo, 7 de março de 2010

Song to Woody!

Para quem ainda não viu ou não está minimamente interessado em ver,mudem de ideias. Vi há pouco tempo o último filme do Woody Allen, "Whatever Works" ou como o podem encontrar no cinema "Tudo pode dar certo" e adorei.
É uma espécie de comédia romântica e retrata a história de um homem, na casa dos 60 anos que se apaixona por uma rapariga de 20 e tal, o que de facto pode ser visto como uma abordagem ficcional da biografia do próprio Woody Allen, casado desde 1992 com uma mulher muito mais jovem. O actor principal é Larry David (escritor do Seinfeld), um judeu nova-iorquino, assim como Woody Allen e que é considerado por muitos como o "alterego" do cineasta.
É um filme que se pode muito bem ver em casa, recorrendo às maravilhas da pirataria e de puro entretenimento.

Fica aqui a sugestão ;)

P.S.- Tenho o filme já sacado, quem o quiser ver que traga uma pen na terça feira.

Abreijos

Kevin Garnett

sexta-feira, 5 de março de 2010

Burton em plano inclinado!

Ou é da minha vista, ou o Tim Burton está casa vez mais irritante?

Cheguei agora de ver o Alice no País das Maravilhas e só não fiquei decepcionado porque não tinha grandes ilusões. parece-me que Tim Burton está cada vez mais igual a si próprio, no pior sentido, nos seus tiques já mil vezes conhecidos, que noutros tempos encantavam, mas que agora enjoam.

O que me irrita é que aquele toque de subversão de Burton, que atingiu o seu apogeu em Marte Ataca, mas que estava presente nos seus filmes mais antigos, agora sumiu-se por completo. Chega a ser patético ver o Johhny Depp a imitar-se pela enésima vez e uma Alice quase completamente inepta. O que é mais grave, no entanto, é que Burton tenha banalizado de forma tão mesquinha um dos mais fascinantes livros de toda a hist´ria da literatura.

Salvaram-se os óculos das 3D. Mesmo que depois me dê uma valente dor de cabeça.

Jorge

quinta-feira, 4 de março de 2010

Coragem!

É o apelo comum da Matilde, do João Queiroz, do João Coelho,em parte do Sérgio e do Mateus (não viram o filme todo!)e meu. É preciso coragem! Um «tour de force» para aguentarem as 3 horas do Solaris.

Esforcem-se! Vejam tudo seguido, vejam aos bocadinhos, mas não deixem de ver. E tenham uma caneta e um papel ao lado e vão registando as vossas impressões.

Boa sorte


Jorge

segunda-feira, 1 de março de 2010

Resposta à Matxiuailde

A existência de um fundo mundial para a investigação científica não é um impedimento a que os países não invistam também em investigação a nível nacional.Portanto a alínea c) não me faz muito sentido.

Por outro lado, há necessidade mundial de determinadas descobertas científicas, tanto pela sua utilização tecnológica como pelo simples facto de querermos avançar com a ciência a nível teórico. As ondas serve para Portugal, mas se calhar dava jeito energia solar mais eficaz para todo o mundo. Por outro lado se muitos países produzissem energia a partir das ondas (e há, claro, muitos países com costa) escassez de energia seria menor e, portanto, os países que não têm costa podiam-na comprar mais barata (acho eu, mas tu é que és de economia xD).

Relativamente à a) bastava que a participação económica nesta "sociedade" mundial fosse proporcional às capacidade económicas de um país (como os impostos).

Quanto à c) porque não criar um comité de bioética mundial e escrever algo parecido com a Carta dos Direitos Humanos para a utilização de conhecimentos científicos?

d)e restantes: Já ouviste falar do CERN? Estão à beira de fazer descobertas científicas importantíssimas, não me parece que estejam a esbanjar dinheiro.A colaboração funciona bem= dá jeito ter os maiores crânios do mundo a pensar na mesma sala.E o facto de disponibilizares os conhecimentos obtidos a todos aumenta imenso o progresso da ciência!

Especificamente ao que dizes da relação da ciência com o lucro: não podia estar mais em desacordo. Penso que a tua mudança não responde ao comentário do prof. Como seria se tivesse sido assim com o genoma?

(Ah!! espera, teria sido como foi com o tamiflu e a gripe suína! Vê lá o dinheiro que os países não esbajaram nisso quando podiam ter descoberto a partir da tal sociedade. Vejam este vídeo e comentem:).

Por outro lado, ter em consideração que a investigação científica tem de estar à procura do lucro não me faz sentido absolutamente nenhum. Eu ia argumentar a partir da questão moral e do papel da ciência, ia falar de como a ganância podia deturpar os ideais da ciência e mais de uma data de coisas que acho que, moralmente, vão contra esse conceito. Mas como o pessoal dos lucros é muito dado a consequências e utilitarismos, pego por aí. As revoluções científicas geralmente abrem caminho a milhares de aplicaçõe funcionais e lucrativas (e.g. relatividade geral, mecânica quântica, ou até os Principia de Newton). No entanto, nenhuma destas revoluções tinha o propósito de gerar lucro, mas antes de COMPREENDER a Natureza. É esse o propósito da ciência!

Podes argumentar que então, se dão dinheiro, teriam investimento. Mas isso seria incorrer na mesma errada premissa que invalida as teorias económicas clássicas e neoclássicas: a de que o agente do sistema é perfeitamente racional. Terias de assumir que o agente económico saberia que a descoberta daria dinheiro antes da descoberta ter sido feita. Não me parece que os capitalistas sejam assim tão omnisapientes xD

Quando aqueles protões chocarem na Suiça vais ter um mundo à tua frente que nenhum capital poderia ter previsto.

Acho que era basicamente isto que queria dizer; se me lembrar de mais alguma coisa acrescento a côr.

E viva as Ciências Puras!!!

PS: Sugiro que amanhã se contiue por um bocadinho a discussão da genética (tenho um curto documentário para passar) e que depois se fale da questão das patentes e dos direitos de autor Acho uma discussão extremamente interessante e que, tendo em conta o debate que estamos a ter, não é muito descabido. Além de facilmente se relacionar com o "povo da floresta" do filme da semana.

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