segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Maranja Lecânica

Allô!
Estou um bocadinho perdido no meio da discussão por causa do sistema posts/comments, mas, bom ou mau, aqui deixo o meu contributo para a discussão.

Antes de começar deixem-me dizer que sou um subjectivista moral. Não há nada, no mundo inteiro, que nos diga tão linearmente o que é bom ou mau. A moral é uma invenção da vida e, como tantos outros conceitos, é posto num altar a que não pertence (como a consciência, caro professor xD). Penso que a única maneira de achar que os valores são objectivos é a partir da crença religiosa - este ateu convicto já não tem hipótese de ser uma pessoa decente xD.
Mas lá por acreditar que os valores são subjectivos não quer dizer que não defenda os meus ideais, os meus valores e as acções que penso que fariam do mundo um lugar muito, muito melhor. Valores esses que se baseiam na universalidade.

E a Mariana tem toda a razão no que me disse: quando se fala de condenar/apoiar determinados actos, medidas ou políticas concretos (MGF, Máquina do Cérebro, etc..) é necessário deixar para trás a subjectividade moral e partir do parágrafo que começa com "Mas".

A MGF é uma prática desumana. Trata-se de um traço cultural que desrespeita os direitos humanos, que tem consequências nefastas (a não ser para o controlo populacional, poupem-me) e que não dá, e isto é o mais importante, a oportunidade de escolher aplicá-lo.
O Gonçalo argumenta que é um traço cultural que temos de respeitar. Mas Gonçalo, aposto que não acharias tanta piada se fosses castrati.
Pelos mesmos princípios da subjectividade poder-se-iam considerar o homocídio, a pedofilia e o infanticídio* como tradições a respeitar.


Quanto ao filme há imensas coisas que podemos discutir.
O Alex ser "bom" ou "mau" é uma delas. Reafirmo que não me parece que esta dicotomia se possa aplicar a uma pessoa no seu todo, mas antes a determinadas intenções ou consequências.
Mas é preciso deixar claro: aquela máquina não foi boa para o Alex. Não o fez parar de sofrer (pelo contrário), não fez com que deixasse de ter más intenções (He was cured, alright) e toda a mudança de comportamento não o ajudou na sua vida porque não apagou o que ele já tinha feito. Mesmo que começasse uma vida de novo nunca seria uma pessoa que estivesse bem, dado os seus conflitos interiores.

Portanto deixemos esclarecido: As medidas sociais que se seguem pelos mesmos princípios que a Máquina são práticas consequencialistas em que os direitos do indivíduo são ignorados.
E são defendidas por grupos que desumanizam as pessoas: Desde Stuart Mill da ala de extrema Direita americana até ao otário do José Estaline que disse "uma morte é uma tragédia, milhares são uma estatística".

Aliás, nunca seria possível criar máquinas destas que fossem eficazes. Exactamente por causa da já tão discutida Complexidade Humana. Por acaso no tratamento do Alex tropeçaram na questão da música, mas se não tivesse acontecido quem nos diz que ouvir a música depois de sair da instituição não despoletaria no Alex acções ainda piores.


Tinha mais coisas que queria dizer, mas esqueci-me xD
Se me lembrar acrescento no comment.

Até amanhã!

*O infantícidio foi considerada uma prática socialmente aceitável durante muito tempo na altura do apogeu Romano.

11 comentários:

  1. Mas lá por acreditar que os valores são subjectivos não quer dizer que não defenda os meus ideais, os meus valores e as acções que penso que fariam do mundo um lugar muito, muito melhor.

    Não percebo como é que concilias estas duas coisas!

    matilde

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. "Antes de começar deixem-me dizer que sou um subjectivista moral. --> Não há nada, no mundo inteiro, que nos diga tão linearmente o que é bom ou mau. <--"

    Não me parece. Nós não conhecemos um critério objectivo satisfatório que nos permita estabelecer o que é bom e o que é mau, mas isso não significa que este não exista...

    Aceitar o subjectivismo moral é, conforme vimos nos anos anteriores, muito perigoso - sobretudo quando enfrentamos atitudes de profunda intolerância.

    E tal como a Matilde disse, não me parece exequível essa conciliação de subjectivismo com a defesa dos nossos ideais e valores, baseados na universalidade. É que esse tipo de "subjectivismo" parece-se um pouco àquele que os EUA aplicam... =p

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  4. Mas se juntares mil pessoas, formares uma sociedade e todos os membros dessa sociedade através dos seus ideais considerarem que matar é mau esta pode ser considerada uma prática moralmente má na nossa sociedade. E se juntares dez sociedades que achem o mesmo podes considerar essa prática moralmente má nessas sociedades, e juntando todas as sociedades do mundo que por uma esmagadora maioria acham que matar é um acto mau e errado, UNIVERSALIZAS e passas a considerar matar um acto mau, matar está mal, matar é errado.

    Nao quer dizer claro que o seja para sempre...

    Passado mil anos, juntam-se mil pessoas numa sociedade que acham que matar é muita porreiro, que por sua vez se juntam a mil sociedades que acham que matar muito porreiro é e por sua vez estas mil juntam-se as restantes sociedades e UNIVERSALIZAM que matar é muita baril! e bora lá matar para ser do pessoal bacano (pessobeco)

    O grande problema desta questão é que a maioria das sociedades que acham o apedrejamento porreiro e a MGF essencial são sociedades onde a esmagadora maioria nao decide o que é porreiro nem essencial, mas sim um capataz com a mania que é pausado e curte mandar tipo ditador ou... religiao :P

    Terminei, vou papar que tenho fome (desculpem decidi partilhar)
    Beijinho zé

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  5. Fjó. Pedro Fjó.

    Rodrigo, não estou a defender a posição de total tolerância em relação às váris culturas, como penso ter deixado claro no texto. A intolerância não se tolera.

    Matilde e Rodrigo:
    -se não houvesse vida não haveria sistemas de valores. Toda a moralidade é baseada em sentimentos e razão, carecterísticas animais.
    -De século para século, de país para país os sistemas de valores variam. Como dizer o que está certo? não há forma de o fazer, é apenas uma opinião tua com base nas tuas vivências (e aqui os genes pouco mexem)
    -Quando rebatidas a fundo não há qualquer política ou filosofia que tenha um pilar não-dogmático. Tudo são emoções com muito raciocínio por cima, já diria Damásio. Estes pilares são mutáveis e, à excepção da crença divina (contra a qual não vou argumetar aqui), não há nada que te dê certezas desse pilar.
    -És uma forma de vida de carbono, alguns átomos, algumas células, and that's it. Onde aparece a moralidade no meio da evolução enquanto descontinuidade singular?
    -As tuas acções baseiam-se nas tuas filosofias, que se baseiam nas tuas crenças, que se baseiam nesse pilar, que muitas vezes é só pó. Acreditar nelas e lutar pelo que achas justo faz parte de ti, negá-lo seria negar a tua própria maneira de ser.
    -Ser um subjectivista moral não é sinónimo de conformismo e inércia, é sinónimo de humildade intelectual e de reconhecimento da tua falta de singularidade num mundo tão complexo em que não passas de mais um ponto.

    Não obstante, Viva a Revolução!! xD

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  6. Confesso ter alguma dificuldade também em conjugar um visão subjectiva da moral, com a defesa de uma rede de valores e a condenação de tradições culturais.

    Penso que é possível encontrar um critério universal para comparar o que é bom e o que é mau, embora ainda não o tenhamos encontrado. Podem no entanto, alegar, tal como Kuhn, que enquanto incluídos neste paradigma não podemos comparar o bem e o mal de hoje, com o bem e o mal da Idade Média por exemplo, mas acho que nunca gostaste muito dele pois não? :D

    Também não concordo contigo Zé, acho que não podemos dar o papel de decidir o que é bom ou mau às massas, isso seria a anarquia moral, passo a expressão :P

    P.S.: Stuart Mill era Inglês e não americano! E apesar de liberal não era assim tão desumano

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  7. Mas acaba por ser assim. tal como tu disseste o que é bom e mau na idade média já nao é igual ao que é hoje, porque a mentalidade das massas mudou, se fosses só tu a mudar pouco ou nada poderias fazer para alterar os costumes da epoca..
    O que é bom e mau vai alterando com o tempo, pois a nossa visao de bem e mal muda com o tempo.
    Pegas na visao que cada um tem e acabas por "universalizar". toda a gente sabe que roubar é mau e bla bla bla por isso mesmo

    ze

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  8. Como é que nao percebem? o que ele está a dizer é que sim os valores sao as pessoas que os criam, portanto claro que sao subjectivos. se as pessoas forem todas diferentes os valores vao ser todos diferentes. a definiçao de bom é algo que consideras correcto, mas se outro considerar outra coisa como correcta isso é o bom para ele. o teu valor diz-te que é super errado fazer tal coisa, portanto só tens de convencer os restantes disso, ;D

    mary

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