terça-feira, 6 de outubro de 2009

Mais um contributo para a discussão!

Estou a gostar bastante da discussão sobre o determinismo que se pode desenrolar nas páginas deste blog, como se pode desenrolar nas aulas, sem quaisquer barreiras. Gostava agora de ver os argumentos do outro lado, daqueles que aceitam que existe uma pré-determinação dos nossos actos.

Gostava igualmente de colocar uma outra questão: aqueles que não aceitam o determinismo individual defendendo, por isso, o livre arbítrio (não somos térmitas dizia o Fernando Savater), defendê-lo-ão, no entanto, em termos colectivos? Existe algum sentido na História colectiva dos Homens? Haverá algum sentido de evolução histórica? Em caso afirmativo, qual? O progresso? Uma sociedade mais justa? a auto-destruição? E, se não existe, gostaria de saber se existe alguma inteligibilidade na História? As coisas acontecerão em termos sociais por mero acaso, ou por simples probabilidade?

Hegel, filósofo alemão do século XIX ( e depois dele, Marx) acha que a história era a realização da Razão no tempo. Aquilo a que ele chamava o Zeitgeist. Cada época corresponde a um determinado período de evolução da Razão Humana e que essa mesma evolução ocorrerá independentemente das vontades individuais. Simplificando, as personagens individuais (Júlio César, Napoleão, etc) não passam de instrumentos de um Espírito Colectivo . Se não fossem eles, seriam outros. As coisas teriam que ser assim independentemente das personagens que corporizam os acontecimentos.

Como talvez saibam, a perspectiva de Marx tem semelhanças. Para ele, o que move a história são os conflitos entre as classes sociais e não as personagens individuais. Façam o que fizerem as pessoas individualmente apenas cumprem com um plano de natureza social que está determinado à partida pelas relações de produção.

Não sei se Marx ou Hegel têm alguma razão, mas, pelo menos tornaram a história em algo de compreensível, pelo menos, segundo a sua perspectiva.

Gostaria de terminar, transcrevendo um belo poema de Bertolt Brecht que vos pode ajudar a perceber a problemática a que me refiro.


«Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Sò tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sózinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitòria.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas»


Bertolt Brecht

Jorge Saraiva

3 comentários:

  1. Entao e o caso de Hitler? A culpa nao foi dele?

    "Simplificando, as personagens individuais (Júlio César, Napoleão, etc) não passam de instrumentos de um Espírito Colectivo . Se não fossem eles, seriam outros."

    Se nao houvesse um Hitler haveria o holocausto à mesma?? duvido..

    Se não houvesse um Eusébio o Benfica ia ter a mesma Historia que tem? Se nao houvesse um Mourinho o Porto jogaria como jogava e ganharia a Champions?

    Nao!! As pessoas fazem a História, é preciso haver pessoas com opinioes e potencialidades de levar pra frente a sua opiniao e assim fazer História.

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  2. Não quer dizer que eu concorde com Hegel ou Marx. Mas acho que não faz sentido estares a comparar as grandes linhas de evolução histórica com jogos de futebol. São coisas substancialmente diferentes.

    Provavelmente sem Hitler não teria havido nazismo. Mas talvez tivesse existido um regime aparentado, com algumas características diferentes, mas com um fundo essencialmente idêntico.

    Ou talvez não.

    Jorge

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  3. Acho que a ideia geral aqui é que uma influência geral num grupo de pessoas resulta em movimentos sociais colectivos e não individuais. Claro que as personalidades têm importância mas não foi hitler que mudou os ideais de todos os que votaram nele,foi um partido inteiro e uma situação histórica que espero que não se volte a repetir.

    Se é isto eu ele diz, aqui estou de acordo com Hegel.

    Agora em relação a ver a história como a realização da Razão no tempo... Nem por isso. Tenho uma perspectiva mais semelhante à que Thomas Kuhn tem da ciência relativamente à evolução das culturas e das sociedades. É uma questão de serem adaptáveis.

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