quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Continuação da aula

Eu sei que não era propriamente suposto discutir o assunto de Determinismo no blog, mas, como algumas pessoas não se contiveram, decidi "postar" também o meu ponto de vista.
Acho que tomo um posição relativamente semelhante à da Matilde, na medida em que também o determinismo me põe numa situação um pouco frustrante, uma vez que é difícil conseguir refutá-lo.

Continuo, no entanto, a não querer adoptar esta forma de ver o que se passa à minha volta e dentro de mim, por várias razões.
O facto do determinismo excluir a possibilidade do meu livre-arbítrio e substitui-lo por uma ilusão deste, é, para mim, uma forma demasiado, por falta de palavras, pessimista de encarar as situações. Eu gosto de saber, ou melhor, prefiro achar, que tenho escolha, que tenho poder sobre as minhas acções e que estas dependem de mim. E que isso alteraria toda a sucessão de acontecimentos, na minha vida, na de outros e no progresso das coisas. Portanto, eu tenho importância.

Dir-me-ão, então, que sim, de facto, eu interesso. A minha existência naquele momento, naquele sítio, provoca e desencadeia outro número enorme de acções determinadas, também, por eu estar lá. Tal como estão todos os outros factores quimícos, físicos, biológicos e psicológicos. Ou seja, estou lá com o propósito de figuração. Prefiro achar que tenho um papel mais importante na minha vida, sendo a renúncia ao determinismo uma forma, para mim, de viver com um propósito maior e sem desculpas. Resumindo, faz-me sentir mais completa; feliz, digamos.
Embora não seja esta a questão essencial da qual eu discordo profundamente, acho que apenas os factores externos, como os átomos estarem naquela posição certa em todas as coisas, não pode, de todo, determinar a escolha por mim preferida naquele momento. Até porque, como se falou na aula e se fala em todo o lado, a física quântica explica o facto de não existir certeza de posição de um electrão mas sim probabilidade de uma. E, para mim, tem maior credibilidade, ajudando-me, ao mesmo tempo, a fugir do determinismo; porque, se nem existe uma certeza de posição relativamente a uma das partículas mais pequenas alguma vez conhecidas, como poderemos nós afirmar uma certeza de acontecimentos em tudo o resto?

Breve definição de física quântica, descrita essencialmente através de dois pontos:
- Em estados ligados, como o electrão a girar à volta do núcleo de um átomo, a energia não se troca de modo contínuo, mas sim de modo discreto (descontínuo), em transições cujas energias podem ou não ser iguais umas às outras. A ideia de que estados ligados têm níveis de energias discretas é devida a Max Planck.
- O de ser impossível atribuir ao mesmo tempo uma posição e um momento exactos a uma partícula, renunciando-se assim o conceito de trajetória, vital em Mecânica Clássica. Em vez de trajetória, o movimento de partículas em Mecânica Quântica é descrito por meio de uma função de onda, que é uma função da posição da partícula e do tempo. A função de onda é interpretada por Max Born como uma medida da probabilidade de se encontrar a partícula em determinada posição e em determinado tempo.

Sei que o determinismo diz precisamente que é todo o conjunto eu como físico e psicológico, juntamente com os factores abióticos do meio que me fazem tomar aquela decisão. E não apenas os factores externos. Claro que eu tomo decisões em função, também, da personalidade que tenho e que se criou. Criou-se através da minha educação, dos genes familiares, das situações por mim vividas, da precisão de acontecimentos, num instante e num local, aleatoriamente decorridos diante dos meus olhos.
O problema que eu procuro debater, é o facto de o determinismo defender que qualquer escolha que eu tome, está determinada, uma vez que se formou uma personalidade impossível de ser mudada naquela situação. De certeza que eu vou tomar um caminho específico e conhecido; é certo. Aqui eu discordo profundamente. Não poderei eu dar uma "chance" à minha personalidade, uma vez que ainda não está formada? A cada situação crio um novo traço meu, posso mudá-lo, posso escolhê-lo. Se me disserem que já as situações vividas determinam aquilo que eu estou a escolher num momento por um processo de causa-efeito, criando-se uma personalidade de forma contínua, mas já conhecida, voltarei então ao ponto de partida, e à razãopela qual acho o determinismo uma vertente a não "escolher". Demasiado pessimista. Talvez ache, até, uma corrente um tanto ou quanto preguiçosa. Tudo acontece por algo já acontecido.
Assemelho esta forma de pensar à religião: tem explicação para tudo.

Talvez nunca se saberá então a nossa participação real e activa no mundo. Mas, depois de muitas voltas dar à cabeça (e mais uma vez, como na religião) não cheguei a conclusão nenhuma. É tudo uma questão de fé e preferência.
Portanto, não terá grande importância.


Ainda assim, gostava de "ouvir" mais, se mais houver, sobre determinismo. E a vossa ilusão de preferência por esta corrente.

Júlia

7 comentários:

  1. Não poderei eu dar uma "chance" à minha personalidade, uma vez que ainda não está formada? A cada situação crio um novo traço meu, posso mudá-lo, posso escolhê-lo.

    Imagina uma pessoa muito sensível, sentimental e emotiva, que vai ver um filme romântico muitoo triste. Ela promete a si própria que não vai chorar antes de começar. No entanto, ela não consegue controlar-se! Não é capaz de não chorar.

    Ora, então o que é que pode distinguir as situações em que a escolha é determinada pela tua personalidade já "definida" e as outras em que tu podes criar um "traço novo mudá-lo e escolhê-lo" e como tal tomares a decisão?

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  2. É como digo depois, é só uma questão de preferência. Fisicamente, nada as distingue, as coisas acontecem, só. É preferível achar, para mim, que sou capaz, que é possível, que decido.

    Aquilo que me faz ficar frustrada é: imagina essa mesma pessoa, que é muito emotiva, e vai ver o tal filme. Mas não chora; consegue. Eu acharia isto criar um novo traço, criar personalidade, torná-la, neste caso, mais forte (ou insensível, não interessa). No entanto, um determinista diria provavelmente que ela não chorava porque estaria determinado que ela assim o não fizesse, por causa das circunstâncias em que se encontraria naquele momento, a nível de lugar, de companhia.

    Efeitos de outras causas que não ela.

    Júlia

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  3. Só para acabar, é realmente mais provável que ela chore. Mas há hipótese de não o fazer.

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  4. "Assemelho esta forma de pensar à religião: tem explicação para tudo."
    O que eu assemelho a uma religião é a escolha de uma doutrina apenas porque a alternativa nos parece pessismista...

    Já escrevi um pouco sobre o que acho do determinismo pelo blog inteiro. O resto falamos na aula ;)
    Mas queria voltar a dizer que:
    -Não acho que o determinismo rejeite a noção de livre-arbítrio e a sua existência enquanto possibilidade de tomar uma opção.
    -A não determinação simultânea da posição e da velocidade de um electrão não leva ao não determinismo. Isto porque os não deterministas aceitam o determinismo na física mas não na escolha humana. E esta escolha nada tem a ver com o movimento dos electrões.
    -A escolha entre não determinismo e determinismo não é uma escolha indiferente, que se toma apenas porque uma é mais "optimista" do que a outra. O determinismo, a meu ver, é nos apontado como certo pela própria ciência e qualquer outra teoria alternativa pressupõe uma enorme descontinuidade entre o ser humano e os outros seres, o que chega a contrariar a própria evolução darwinista.
    -O determinismo não tem de ser pessimista, da mesma forma que um jogo de xadrez é justo ainda que matemático. As nossas vidas são sucessões infinitas de sistemas de equações com milhares de incógnitas, é impossível prever o que vem a seguir porque cada X que nos derem resulta num final completamente diferente (Teoria do Caos ou Efeito Borboleta).

    Bedjos :)

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  5. Bom comentário man! x) Ainda não tinha ouvido alguns desses argumentos. Li todos os comentários e posts, não tava tão bem explicado como aqui, parece-me. Ainda assim:

    Primeiro, não escolhi ainda nenhuma corrente, nunca falei de nenhuma outra para além do determinismo. Apenas falo da renúncia a este.

    Saltando, primeiro, alguns dos pontos: quando tu dizes "A escolha entre não determinismo e determinismo não é uma escolha indiferente, que se toma apenas porque uma é mais "optimista" do que a outra. O determinismo, a meu ver, é nos apontado como certo pela própria ciência e qualquer outra teoria alternativa pressupõe uma enorme descontinuidade entre o ser humano e os outros seres, o que chega a contrariar a própria evolução darwinista." acho que estás a ser um pouco intolerante. Se ainda não se adoptou uma corrente destas como certa, pertencendo esta discussão à filosofia (e não à ciência, como disseste), é porque não há argumentos científicos e tão certos como a matemática que provem a vericidade de uma. Acho que a renúncia ao determinismo não tem de ser a defesa de uma não interacção dos seres vivos. As coisas nunca são assim tão lineares; não é ou uma coisa ou outra.
    Acho que sim, que existe interacção entre os seres vivos e o meio abiótico, que há acções e consequências, que há uma personalidade a formar-se por causa de toda a sucessão de acontecimentos dentro e fora do corpo. Mas por isso escrevi numa resposta ao comentário da Matilde, ainda que não aches o exemplo muito bom, há probabilidade de uma certa escolha minha. Grande probabilidade. Mas não há uma certeza. E o que defendo é a existência dessa pequena percentagem; da possibilidade de mudança.

    Agora, voltando ao primeiro ponto queria só perguntar em que sentido achas que o determinismo não pressupõe a ilusão do livre-arbítrio? Até porque, a definição de determinismo é essencialmente defender esta ilusão.

    Segundo ponto: Quis chegar, com a Física Quântica, à palavra probabilidade. Porque, como quis transmitir, apenas acho que a escolha humana já determinada, não existe. Precisamente por causa da palavra probabilidade. Como não há uma certeza da posição de um electrão, não há uma certeza da escolha humana. (E não percebi a tua relação com não deterministas-determinismo físico.)

    E pessimista porquê? Apenas porque não acredita no livre arbítrio.

    Peço-te que me expliques essa nova forma de determinismo que tu defendes :) please!

    Beijinhos, Júlia

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  6. "acho que estás a ser um pouco intolerante. Se ainda não se adoptou uma corrente destas como certa, pertencendo esta discussão à filosofia (e não à ciência, como disseste), é porque não há argumentos científicos e tão certos como a matemática que provem a vericidade de uma."
    Não é bem intolerante, é mais pro arrogante. Mas tens toda a razão! só que não há nenhuma descoberta cientifica que seja sempre consensual, pelo que determinadas descobertas e pontos da vista podem-nos indicar teorias que não são propriamente "provadas" cientificamente (there's no such thing).

    Segundo ponto: A PROBABILIDADE É ESCÓRIA!! A probabilidade é o pior ramo da matemática!, a probabilidade nem é matemática! A probabilidade é o penso rápido para a ferida da incerteza por falta de uma boa cicatrização que é a capacidade humana de raciocínio! A probabilidade vai contra a ciência! A probabilidade é uma engenharia: não quer saber o que É quer saber COmO SE USA!

    Estou a brincar... mais ou menos xD
    A probabilidade é importantíssima, mas é uma treta.

    Mas falamos disso amanhão. Tal como falarei da minha ideia de determinismo ;)

    Beijinhos

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