quarta-feira, 21 de outubro de 2009

mutilação genital feminina

Já que o debate de ontem levou ao tema da mutilação genital feminina, aqui vai:

A mutilação genital feminina é uma práctica degradante e que é na maioria dos casos feita a sangue-frio, com instrumentos (facas, navalhas, cacos de vidro) que não estão esterilizados, e que podem levar à transmissão de SIDA e à morte. Tem ainda graves consequências psicológicas e é a privação do prazer da mulher.

Acho bem que se respeitem as outras culturas, mas nunca ao ponto de ficar indiferente. Se assim fosse teríamos de respeitar os bombistas suicidas, os apedrejamentos até à morte, e outras práticas que a maioria de nós considera intoleráveis. Se assim fosse nem sequer valia a pena intervirmos em qualquer situação de violação de direitos humanos, desde que fizesse parte de uma outra cultura.

Não temos de considerar os nossos valores e cultura superiores, muito menos desvalorizar outros costumes, mas em certas situações temos de intervir. Os direitos humanos são universais no sentido em que protegem os direitos básicos de toda a gente.


A Júlia falou em pressão social, mas estas meninas (a operação é feita antes da 1a mestruação, é considerada um ritual de passagem para a idade adulta) não têm opcção, não escolheram serem mutiladas. Não é o mesmo que uma pressão em termos estéticos que nós sofremos em relação, por exemplo à depilação. É uma imposição que afecta gravemente a saúde e a liberdade pessoal das mulheres, e na minha opinião, não deve ser tolerada.

Deixo-vos ainda um testemunho que encontrei:

“Sofri mutilação genital feminina aos dez anos. A minha defunta avó disse-me então que me iam levar perto do rio para executar uma espécie de cerimónia, e que depois me dariam muita comida. Como criança inocente que era, lá fui como uma ovelha para a matança.

Mal entrei no arbusto secreto, levaram-me para um quarto muito escuro e tiraram-me as roupas. Vendaram-me os olhos e despiram-me completamente. Depois, duas mulheres fortes levaram-me para o local onde seria a operação. Quatro mulheres com força obrigaram-me a deitar-me de costas, duas apertando-me uma perna cada uma. Outra mulher sentou-se sobre o meu peito para eu não mexer a parte de cima do meu corpo. Um bocado de tecido foi-me posto dentro da boca para eu não gritar. Depois raparam-me os pelos.

Quando começou a operação debati-me imenso. A dor era terrível e insuportável. Enquanto me debatia cortaram-me e perdi sangue. Todos os que fizeram parte da operação estavam meios bêbados. Outros estavam a dançar e a cantar, e ainda pior, estavam nus.

Fui mutilada com um canivete rombo.

Depois da operação, ninguém me podia ajudar a andar. O que me puseram na ferida cheirava mal e doía. Estes foram momentos terríveis para mim. Cada vez que queria urinar, era forçada a estar em pé. A urina espalhava-se pela ferida e causava de novo a dor inicial. Às vezes tinha de me forçar a não urinar, com medo da dor terrível. Não me anestesiaram durante a operação, nem me deram antibióticos contra infecções. Depois, tive uma hemorragia e fiquei anémica. A culpa foi atribuída à feitiçaria. Sofri durante muito tempo de infecções vaginais agudas.”
Hannah Koroma, Serra Leoa.


ps: desculpem tanto o tamanho do post como o facto de estar a fugir à discussão do filme, mas tinha de ser...

Marta

2 comentários:

  1. concordo, testemunho mesmo chocante :S o problema é que está longe de ser o unico

    P.S. Stor! nao pode contar este post para a avaliação da marta porque foi feito pela amnistia ahaha (va, mas conte que ela é boa rapariga ;) coof coof)

    zequinha

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  2. ahah, sim, eu liguei para a sede e encomendei um texto :) (não contes a ninguém)

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