terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sweet-zerland

Eu pertenço à (pelo menos, aparente) minoria que adorou o Sweet Movie, de Dušan Makavejev. Conforme disse na aula, acho este filme um excelente "pano de fundo" para a discussão de questões relacionadas com ideologia política - enquanto a nossa amiga Miss Canada experimenta na pele os malefícios (hiperbolizados) da extrema direita e, posteriormente, as extravagâncias (surpreendentemente reais) da extrema esquerda, o barco da comunista/comedora de crianças nas horas vagas Anna Planeta, com a cara de Karl Marx à proa, avança pelo rio fora. Não são precisas grandes capacidades de interpretação para perceber que é esta a premissa básica do filme - ou, melhor dizendo, esta frase resume a história toda.

Porque Sweet Movie vive sobretudo das imagens, vive de símbolos. Tirando alguns momentos iniciais de diálogos e crítica mais subtis, somos bombardeados com uma hora e meia de simbologia diversa que, a mim, raramente me enojou, antes chocou - mas aqui assumo: não me enojo com facilidade. Pelo menos não com ficção - as únicas cenas verdadeiramente nojentas foram aqueles trechos reais.

Se abandonarmos por breves momentos os nossos eventuais preconceitos contra obras desta índole, se não deixarmos que eventuais sentimentos de nojo ou repulsa nos afastem do filme, conseguimos retirar dele muita coisa - afinal, quantas interpretações diferentes houve para as cenas do açúcar?... E quem fala das cenas do açúcar, fala do renascimento da Miss Canada, ou da cena final, em que as crianças aparentemente mortas renascem a partir daqueles "casulos" de plástico.

O problema, a meu ver, foi o insucesso do segundo objectivo - o nojo foi mais forte e toldou qualquer interpretação. E atenção, eu não estou a criticar as pessoas que não gostaram do filme, de forma alguma. Apenas constato um facto: houve pessoas tão chocadas com o filme, tão enojadas com aqueles pénis dourados e aqueles banhos de chocolate, que nem perceberam bem o nexo de tudo aquilo. Mas "aquilo" até tem um "nexo".

Quanto às críticas da Matilde, eu acho que houve bom senso na decisão de levar o Sweet Movie à aula - simplesmente o João Queirós tem uma sensibilidade que, aparentemente, não coincide com a da maioria da turma. (É insensível, não digam a ninguém.)

Faz parte de uma disciplina como esta haver filmes que não nos agradem minimamente (olá, senhor Fassbinder!), filmes que nos choquem (olá, senhor Kubrick!) e filmes que nos agradem imenso (olá outra vez, senhor Kubrick! E boa noite, senhor Makavejev!). O Queirós arriscou, provavelmente pensava que este "doce" apenas nos ia chocar, mas agradar - como no caso do Laranja Mecânica. Afinal de contas, enojou grande parte da turma... mas como diria o nosso amigo Frank Sinatra - that's life. Não acho que justifique o cessar de qualquer sugestão de visionamento de filmes...

1 comentário:

  1. Odeio quando as pessoas dizem aquilo que quero dizer ainda melhor do que eu diria -.-

    Excelente Comment!

    ResponderEliminar

Site Meter