terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sweet baby jesus, Dusan's going to Hell

A primeira coisa que gostava de dizer é que fiquei com pena de depois do filme ter acabado, o debate ter-se girado à volta do nojo e o choque que o filme causou e não sobre o filme em si. Obviamente que ninguém é obrigado a gostar, atribuir algum valor ou até mesmo perceber o filme, mas faz todo o sentido tentar desvendar o simbolismo inerente a esta obra.

Num filme tão simbólico, meticuloso, rebuscado e complexo como este, todos os pormenores contam, e é de esperar que haja algo menos subtil que corrobore as possíveis interpretações que os espectadores façam.
Olhamos para os diálogos, pouco nos dizem. Ajudam-nos a contextualizar a história e a manter a coerência mas não é aí que jazem os pormenores. Observamos e escrutinizamos as imagens mas nada nos garantem de concreto; é lá que está tudo aquilo que precisamos para compreender o filme mas ainda assim nada nos garante ou corrobora as teses. Onde podemos, então, procurar ajudas?
Fui pesquisar à Internet informações adicionais sobre pormenores técnicos do filme e dados biográficos do realizador e encontrei coisas bastante curiosas:

-A primeira, sobre o próprio realizador, diz respeito à sua formação académica. Dusan Makavajev estudou psicologia na universidade de Belgrado e é-lhe atribuído o título de "professor" nesta cadeira. Daí podemos retirar que as ilacções feitas pelo Pedro Feijó em relação aos estados freudianos da juventude não são de todo descabidas ou forçadas. Antes pelo contrário, o passado do realizador apoia veementemente as sugestões do Pedro, principalmente porque Makajev dedicou-se afincadamente à investigação na área da psicanálise e psicoterapia sexual.

- A segunda, diz respeito à ficha técnica do filme; mais precisamente à banda sonora (porque é que ninguém se lembrou de procurar aqui?!). Aparentemente, o tema "Is there life on the earth?", que nos segue durante várias partes do filme, foi escrito pelo próprio realizador. Ora, num filme deste tipo, onde tudo é importante para a compreensão do filme, como é que nos é possível escapar este pormenor, ainda por cima tendo sido escrito pelo realizador?! Reza assim:

-"Is there life on the earth? Is there life after birth?
Is there life on the earth, is there life after birth?

It's a joy to be alive, it's good to be glad,
It's good to survive, it's great to be mad.
It's fun to have nothing, do things in the nude
Oh it's sweet to be hungry, it's finger-licking good.

Is there life on the earth, is there life after birth?
Is there life on the earth, is there life after birth?

It's a joy to be crazy, it's good to be sad.
It's good to be lazy, great to be bad.
It's good to be lucky, good to practice deadly sins
To die for a cause, to be alive and to win!

Is there life on the earth? Is there life after birth?"

A partir destas palavras podemos retirar muitas coisas sobre o filme e sobre o ponto de vista do próprio realizador. O refrão claramente corrobora a ideia do renascimento, da mística envolta na quebra do ovo e na "adopção" feita pelo grupo anarca de Otto Muehl. Os quatro versos seguintes exprimem a admiração que Makavajev tinha por este tipo de comunidades, "it's a joy to be alive, (...) do things in the nude (...) it's finger-licking good. Passando agora à quadra seguinte, podemos ver o entusiasmo com que Dusan Makavajev vê o comunismo e o estilo de vida do marinheiro Potemkin e de Anna Planneta. Apesar de aparentar repreender este modo de vida o realizador aplaude esta conduta " It's good to practice deadly sins, to die for a cause, to be a alive and to win!" Por outro lado, podemos sempre interpretar esta canção como irónica ou simplesmente descritiva daquilo que os personagens sentem no decorrer do filme. Não deixa, no entanto, de ser um bom guia.


Em relação ao título, Sweet Movie, não podia ter sido melhor escolhido. Um paradoxo total. Sweet Movie, um filme sobre adoçantes, utopias, golpes publicitários e manipulção mental não podia ser mais Sugar-free.

Concluindo:
Um turbilhão de dúvidas, uma tempestade de emoções, uma parafernália (ahah Rodrigo) de simbolos e uma ambíguidade de interpretações. That's Cinema for you all

4 comentários:

  1. Óptimo comentário.
    Os estudos dele e a própria música comprovam, em grande parte, a interpretação que tinhamos feito ;)

    A parte do açúcar é, parece-me, a que tem maior potencial de debate (aliás, porque nos remete para o restante filme).
    Temos de nos juntar (aqueles que apreciaram xD) antes da próxima terça para debater melhor!

    ResponderEliminar
  2. Sem dúvida!! É um puzzle brilhante que vale mesmo a pena completar!

    ResponderEliminar
  3. com esse concluindo até fico apaixonada pelo filme, mas deve ser porque já nao me lembro bem.
    mary

    ResponderEliminar

Site Meter