sábado, 7 de novembro de 2009

Sweet Movie e Strip-Tease

Penso que foi Roland Barthes, o teórico francês dos anos 60/70, que disse que a leitura de um texto era uma espécie de strip-tease das palavras em que casa um imaginava o que queria. Isto aplica-se a todas as obras de arte, incluindo o cinema.

Este debate é excelente porque nos permite constatar de forma prática, uma coisa de que temos a certeza teórica: as virtualidades e limitações da crítica de cinema. Apaixonamo-nos ou odiamos com a mesma intensidade um objecto artístico e muitas vezes sentimo-nos tristes, por alguém de quem muito gostamos ter uma opinião oposta. Mas esta é a natureza da crítica como uma apropriação subjectiva fundamentada do objecto.

Não quero tomar partido na polémica sobre o filme. A discussão é inesgotável, uma vez que podem ser sempre alinhados argumentos a favor ou contra relativamente ás teses em confronto. Pensem que a fronteira entre a metáfora profunda e a provocação gratuita é tão ténue que, às vezes cabe apenas nos nossos desejos. A linha que separa a desconstrução genial da ausência de ideias é muitas vezes indescernível. Assim como a fronteira entre o arrojo e o kitsch. Entre a reflexão profícua e a banalidade que apenas quis chocar. Já sabem qual é a minha posição sobre o filme, expressei-a na aula, não voltarei ao assunto.

Mais importante do que entrar na «guerra» sobre a qualidade do filme era referir dois ou três aspectos relevantes com ele relacionados. O primeiro prende-se com a natureza da crítica e já foi acima abordado; o segundo relaciona-se com as questões políticas aparentemente alvo da leitura do filme e que merecem uma nova reflexão (designadamente a questão do comunismo a que voltaremos no próximo filme); finalmente a contextualização deste filme nos anos 60: eram vulgares os filmes chocantes de natureza escatológica escabrosa ou temática desconstrutivista: lembro-me dos filmes do cineasta espanhol, Fernando Arrabal que eram praticamente manchas de cor, os estruturalistas franceses com argumentos herméticos e diálogos incompreensíveis (Alain Robbe-Grillet), os filmes surrealistas de Buñuel (espero mostrar-vos lá mais para diante A Via Láctea, sobre a história do cristianismo) e os filmes chocantes de cineastas italianos como Pier Paolo Pasolini e Marco Ferreri. Há movimentos semelhantes nas outras formas de arte e também na filosofia, com resultados diversos.

Queria, em conclusão, felicitar o João Queirós. Conseguiste, com o filme que escolheste, criar uma bela discussão!

Jorge

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