Como disse na aula, nesta 5ª feira não há exibição do filme na sala 1, uma vez que a mesma estava requisitada por outra professora há várias semanas.
O filme em causa é o Sonhos de Akira Kurosawa, uma das suas obras finais. Kurosawa é um dos maiores cineastas japoneses de sempre que faz parte de uma geração de ouro que emergiu após a 2ª guerra mundial e a que pertencem cineastas como Mizoguchi, Ozu e Naruse entre outros.
O filme foi realizado já na fase final da sua vida (1990)e é entendido como uma espécie de seu testamento estético e ideológico. É constituído por uma série de sete ou oito episódios independentes (a que ele chama sonhos). Para além do virtuosismo que sempre lhe foi reconhecido, chama a tenção um conjunto de ideias que nem sempre nele estavam presentes: o pacifismo, a ecologia e o apelo a uma vida simples.
Proponho que vejam o filme todo, mas a nossa discussão vai centrar-se no último desse sonhos. O tema em discussão prende-se com a relação entre a ciência e a tecnologia e a felicidade.
Deixo uma pergunta para reflectirem: há alguma relação entre a ciência e a felicidade?
Jorge
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Existe, a meu ver, relação entre conhecimento e felicidade. O ser humano sempre procurou saber mais sobre o que o rodeia e sobre ele próprio. Nesse sentido, sim, a ciência como ferramenta de conhecimento atende aos desejos de compreensão do Homem, e portanto relaciona-se com a felicidade.
ResponderEliminarUi que isto promete.
ResponderEliminarNão vou responder agora porque 1) tenho de estudar para o teste amanhã e 2) Porque a pergunta é muitíssimo complexa e é uma questão que já me deu várias voltas à cabeça. Para mim tem sido também um dos grandes dilemas da idealização de uma sociedade: qual a importância real do cohecimento para a sociedade e para o bem estar dos seus membros funcionais.
Marta, penso que a questão vai muito além da procura do conhecimento. sendo que este conhecimento permite aplicações, a questão fundamental a perguntar é se o desenvolvimento tecnológico te torna mais feliz? e, se sim, de que maneira?
Questiono-me é se essa relação não é, de certa forma, inversamente proporcional. Isto por várias razões:
ResponderEliminar1) - Há conhecimentos e racionalizações que tiram a naturalidade e o entusiasmo à forma como vivemos. Se soubéssemos pormenorizadamente como funcionam as emoções e os sentimentos talvez deixássemos de vivenciá-los tanto e deixassem de existir. O mesmo se aplica ao conhecimento sobre o nosso futuro. Tal como o Garrett muito sabiamente disse num post sobre o determinismo: " A essência da vida é não saber o que nos espera" ou algo semelhante.
2) Como a marta disse, o ser humano sempre procurou saber mais sobre o que o rodeia. A incessante procura pelo conhecimento levada a cabo pelo homem para satisfazer as suas necessidades gnósticas por vezes acaba a trazer mais problemas que respostas. Reiterando o que o Feijó me contou sobre uma afirmação do Lord Kelvin (Físico do século XIX), "A física está toda explicada. Só nos falta perceber a mecânica quântica e a relatividade geral". No século XX começou-se a investigar esses dois campos. Resultado? Mais dúvidas que respostas - mais frustração que alegria.
Claro que esta questão não é redutora ao ponto de haver apenas um polo nesta relação. Em outros casos a ciência traz, obviamente, felicidade. É o caso da medicina, das engenharias e todas outras aquelas áreas que nos permitem viver mais e melhor.
No entanto, já dizia Fernando Pessoa sobre uma invejável Ceifeira:
"Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!"
"Ignorance is bliss", reza o ditado inglês. Is it?
Acho que a resposta a essa questão é muito pessoal e está relacionada com o conceito de auto-realização. Há quem siga a já referida máxima "Ignorance is bliss", porque encontram na ingenuidade um modo de vida confortável e feliz - talvez nos pareça algo vazia e desprovido de um sentido, mas creio que todos conseguimos tanger o fascínio da simplicidade (nota: simples =\ simplório); mas há também quem busque incessantemente conhecimento científico, almejando alcançar assim a felicidade (mais que não seja pela satisfação do ditado "Saber é poder").
ResponderEliminarMas isto não responde a outras perguntas: o que é, afinal, a felicidade? Haverá verdadeira felicidade? Poderemos comparar graus de felicidade? E se sim, levará um destes modos de vida a maior felicidade que o outro?
E para estas perguntas não tenho, por agora, uma resposta...
Creio que a felicidade é o estado de espírito ambicionado por (quase) todos os seres humanos(ou talvez até não humanos, quem sabe!)em que todos os seus planos, conscientes ou inconscientes, de auto-realização se concretizam. No entanto, acho que devíamos distinguir esta felicidade idílica das situações efémeras em que nos sentimos venturosos. Ou, quem sabe, distinguir vários tipos de felicidade e hierarquiza-los. Não sei se algum psicólogo ou filósofo já o fez, mas é bem possível. Quanto ás outras questões, também não tenho, por agora, nenhuma resposta.
ResponderEliminarAcho que podíamos começar por debater esta, visto ser essencial para a responder ás outras
Queirós post 1:
ResponderEliminarConcordo totalmente com o primeiro ponto.
Dicordo totalmente com o segundo: a excitação do cientista vem das dúvidas e não das certezas.
Notar também que o avanço da ciência é paradoxalno que toca a isto: mais dúvidas, sim, mas também mais precisão nos resultados!
´Rodrigo post 1 e Queirós post 2:
Concordo com o rodrigo. No que toca às perguntas que apresenta e à resposta do ªQueirós sugiro a distinção entre felicidade e bem-estar, respectivamente emoção e sentimento (esta é para quem anda a estudar psicologia ;) ).
A Ciência ajudará certamente à conquista do bem-estar pela maioria de uma população (dependendo tambem de como é usada) mas é preciso ter muito cuidado com essa ideia geral de que o bem-estar dos cidadãos é a função única da sociedade. Porque se isso representa ignorâcia estamos em maus lençõis (não li o livro, mas segundo o me disseram n'"O Admirável Mundo Novo" o pessoal é feliz).
Já que está na moda, ilustro a minha ideia com um outro poema de Fernando Pessoa:
"Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz-
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
(...)"
PS: Mr. Q, não foi bem assim.. ele sabia lá o que era a mecância quântica e a relatividade geral! xD O que ele fez foi identificar 3 pequenas "nuvens" da física que, pensava ele, não trariam mais conhecimentos importantes. Mas trouxeram essas duas áreas.
Não sei se há relação entre a ciência e a felicidade, professor Jorge, mas há seguramente relação entre a felicidade e a Filosofia. Quando fui sua aluna ainda não se falava de filmes, mas já se falava de coisas inesquecíveis...
ResponderEliminarBem, a este anónimo eu vou exigir que se identifique! :D
ResponderEliminarQuem és?
fj
Não me vou identificar...ainda! Tenho a presunção de achar que não há muitas pessoas a quem a Filosofia tenha trazido felicidade!
ResponderEliminarAqui, a este blog, hei-de voltar outras vezes, como em tempos (que decididamente já lá vão!)me sentei na sala de aula e ouvi, enquanto sonhava!
...Verdadeira felicidade, I mean!
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