terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Caros telespectadores, voltamos à emissão normal...

Quanto mais reflicto sobre o filme que visionámos hoje, mais percebo o quanto gostei dele. Viridiana (de 1961) é, muito provavelmente, o melhor filme que vimos nesta disciplina. Já vimos algumas obras-primas (La Grande Illusion, A Clockwork Orange), mas este filme causou-me um impacto maior e estranha mas agradavelmente... diferente - e isto vindo de alguém que adorou o Sweet Movie.



N'A Laranja Mecânica, desde logo percebemos estar perante uma experiência cinematográfica distinta (mais que não seja pela estética muito peculiar); mas em Viridiana, uma premissa aparentemente simples, inocente e potencialmente religiosa dá origem a uma obra subversiva do Catolicismo tradicional e que nos leva a questionar sobre os nossos valores, mais particularmente sobre esta coisa a que chamamos "caridade". Contrastando com a pureza de espírito de Viridiana (que se reflecte na sua pureza física - num elenco de personagens morenas e com a pele encardida pela sujidade, Viridiana é uma espécie de anjo de cabelos louros) temos em D. Jaime a tentação carnal (que se acabaria por consumar através do seu filho, de uma forma chocante para a época - aquele fim... ménage à trois?) e na multidão de pobres a falta de valores e regras, a ingratidão, a inveja - enfim, a multidão é praticamente a encarnação dos muito católicos sete pecados mortais.

A resposta de Viridiana à adversidade é curiosa - em vez de se refugiar nas suas antigas crenças, procurando justificações bíblicas para a catástrofe (como até então sempre fizera), a jovem (literalmente) queima os seus laços com o catolicismo. Esta resposta acaba por ser não só a da noviça, como a do realizador - Buñuel não consegue acreditar num Deus que permita a perduração de valores tão descorteses, tão bárbaros. Esta posição quase provocatória reflecte-se em dois outros pormenores bastante significativas: o crucifixo/punhal escondido que pertencia a D. Jaime e que, creio eu, fala por si; a "última ceia", subversão de um dos mais adorados episódios bíblicos.

E acho que por agora não tenho muito mais a dizer... só sei que amei o filme e que provavelmente daqui a cinco minutos já pensei em mais qualquer coisa para dizer. Ah, já sei: vou pensar duas vezes antes de dar esmola no metro!






Estou só a brincar, claro.






Eu não dou esmola.

5 comentários:

  1. Ah ah ah muito muito bom. Ainda me estou a rir com esse final.

    Ainda bem que a votação do Viridiana ganhou, uma obra-prima, sem dúvida.

    Apelo a todos os outros que façam como o Rodrigo e que tornem este blog na meca cinematográfica que já fora!

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  2. O Rodrigo esteve brilhante, como de costume!

    Será que conseguimos ligar de alguma forma O Viridiana e a Comédia de Deus?

    Não sei! Mas amanhã podemos tentar!

    Jorge

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  3. Ai que bom, o melhor filme (segundo o que tem sido dito no blog) e eu faltei... Alguém mo pode emprestar?

    Marta

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  4. Poder podemos: na Comédia de Deus a imoralidade está escondida e como tal todos a ignoram. No Viridiana a imoralidade está à vista de todos e todos a ignoram à mesma ahah

    Eu adorei mesmo o filme! Podiamos ver mais dele!

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  5. ahah concordo com todos. Adorei o filme, e sim conseguimos relacioná-lo com a comédia de deus..
    Amanhã havemos de ter um grande debate :)

    queria desde já agradecer à maioria por optar pela viridiana, sem duvida optima escolha ;)

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